(…) a
ousadia do seu desejo protestou contra o servilismo da sua conduta.
(…)
sentimentos em que é maior a aflição da perda do que a alegria da posse.
A janela, na
província, substitui os teatros e o passeio.
Os patrões
descompunham os criados, e estes batiam nos animais.
A palavra é
uma laminadora que alonga sempre os sentimentos.
A mulher
fora em tempos louca por ele; amara-o com mil e uma atitudes de servilismo, que
ainda mais o afastaram dela.
(…) Depois,
o orgulho dela revoltara-se. Então tornara-se calada, engolindo a raiva num
estoicismo mudo que conservou até à morte.
Desejava que
fosse um menino; havia de ser forte e moreno e chamar-se-ia Jorge; esta ideia
de ter um filho varão era como que a desforra, em esperança, de todas as suas
impotências passadas. Um homem, ao menos é livre; pode percorrer as paixões e
os países, saltar obstáculos e gozar dos prazeres mais raros. Uma mulher anda
continuamente rodeada de empecilhos. Inerte e ao mesmo tempo flexível, tem
contra si as fraquezas da carne e as dependências da lei. A sua vontade, como o
véu de um chapéu preso pelo cordão, flutua a todos os ventos; e há sempre algum
desejo que arrasta e alguma conveniência que detém.
Um homem
desembaraçado triunfa sempre na vida.
Cumpria a suas
tarefa quotidiana como um cavalo de picadeiro que gira no mesmo lugar, com os
olhos vendados, ignorando o que está a fazer.
O novo
prazer da independência depressa lhe tornou a solidão mais suportável.
Tinha
necessidade de tirar de tudo uma espécie de benefício pessoal e rejeitava como
inútil o que quer que não constituísse para a satisfação imediata de um desejo
do seu coração.
Transparecia
essa brutalidade particular comunicada pelo domínio de coisas parcialmente
fáceis, em que a força se exercia e a vaidade se diverte.
Era como uma poeira de ouro que lhe cobria, em
toda a extensão. O estreito caminho da vida.
O futuro era um corredor todo escuro que tinha
ao fundo uma porta bem fechada.
O amor,
devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações- tempestade dos céus
que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como as folhas e arrebata
para o abismo o coração inteiro.
Sentiu-se
débil e abandonada, como penugem de um pássaro que volteia na tempestade.
Começava a
sentir aquele abatimento que é provocado pela constante repetição da mesma
vida, quando nenhum interesse a dirige e nenhuma esperança a sustém.
O seu traje
tinha a incoerência das coisas comuns e rebuscadas, onde a pessoa vulgar crê
geralmente entrever a revelação de uma existência excêntrica, as desordens do
sentimento, as tiranias da arte e sempre um certo desprezo pelas convenções
sociais.
Ela
assemelhava-se a todas as amantes, e o encanto da novidade, pouco a pouco,
caindo como a roupa que se despe, deixava a nu a eterna monotonia da paixão,
que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem.
Era preciso
dar o desconto, pensava ele, aos discursos exagerados que escondem afeições
medíocres, como se a plenitude da alma não transbordasse por vezes nas
metáforas mais ocas, já que jamais alguém pôde dar a exacta medida das suas
necessidades, ou das suas concepções, ou das suas dores, e que a palavra humana
é como um caldeirão rachado em que se batem melodias para fazer dançar os ursos,
quando se pretendia era enternecer as estrelas.
O teatro
servia para criticar os preconceitos e, sob o disfarce do divertimento, ensinar
a virtude.
Não me posso
sentir livre se souber que o menor atraso te perturba dessa maneira.
Denegrir
aqueles que amamos sempre nos afasta deles um pouco.
(…) cada
sorriso escondia um bocejo de enfado, cada alegria uma maldição, cada prazer o
fastio, e os melhores beijos apenas deixam nos lábios um irrealizável desejo de
mais exaltada volúpia.
(…) sorria
com a cabeça pendida, as narinas dilatadas e parecia enfim, perdido numa dessas
felicidades completas, que sem dúvida só se conseguem nas ocupações medíocres,
que divertem a inteligência com dificuldades fáceis, saciando-a com uma
realização para além da qual nada há a sonhar.
Um pedido
pecuniário é a mais fria e devastadora de todas as tempestades que podem
desabar sobre o amor.
Depois da
morte de alguém fica sempre uma espécie de assombro, por ser tão difícil de
compreender esse aparecimento do nada e de aceitar a sua presença.
Sentiu-se a
sufocar, como um adolescente, sob os vagos eflúvios amorosos que lhe dilatavam
o coração desgostoso.
Depois da
morte de alguém fica sempre uma espécie de assombro, por ser tão difícil
compreender
Procuro nos
búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais céptica, mais
dura, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser
feliz. É sempre mais fácil culpar o auto-sabotamento com signos do zodíaco ou
algo que se preze, do que entender que você, independente de onde Marte esteja
neste exacto momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde
dói.
Gosta de se
cutucar para ver aonde sangra, aonde incomoda, que parte do seu corpo sente
mais falta dele, em que momento do dia você perde a razão, fica sem ar, o
porquê grita tanto internamente ao ponto que se deita exausta de tanta coisa
que é sua, mas que você não sabe lidar, e por isso é fácil apelar para o
impalpável e para todas as superstições existentes para que tirem a culpa que
você carrega de querer tanto ser como os outros, mas não é.
O amor que
tanto se proclama, dessa busca e espera infindável, "que chegue e será bem-vindo,
que será esperado" que desaparece em alguns meses, que se sobrepõe na
esquina por um outro qualquer, por essa falta, esse buraco no estômago, essa
fome de se sentir amado, de se sentir querido, de se sentir seguro, quando amor
é nada além da sensação de estar caindo e não saber onde se segurar. E por isso
eu culpo toda e qualquer manifestação esotérica, pelo meu amor volúvel que vai
para qualquer pessoa que me desperte algo que valha terminar o dia, e sendo
assim é mais fácil despejar em alguma coisa impalpável a minha incapacibilidade
de ser como o resto das pessoas.
Porque eu
nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre
fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco
mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no
quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de
não descartar nada, faz-me voltar para casa depois de me apaixonar a cada
esquina, e querer uma cama só. Eu magoo-me pra saber onde dói, mas hoje sei
exatamente que parte de mim sente mais falta dele. Tudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário