Mas que
homem! Para ele fazer um adiantamento sobre o mês que vem - Deus do Céu! - mais
depressa virá o juízo anal. Pode a gente pedir, estar em extrema necessidade,
rebentar, que o diabo do velho não adianta nada. Entretanto em casa - todo a gente sabe - leva bofetões
até da cozinheira.
(…)Já na
administração pública, nos tribunais e nas recebedorias o caso é outro. Lá,
cada funcionário se encolhe no seu cantinho e vai escrevinhando, metido num
fraque sujo, com uma cara de se escarrar nela; mas veja-se a casa de campo que
ele aluga. Ninguém lhe ofereça de presente uma taça de porcelana, pois dirá
logo: - "Isso é presente para um doutor"; mas aceitará uma parelha de
cavalos, um carro ou uma peliça de castor de trezentos rublos. De aparência tão
delicada, fala baixinho: - "Empreste-me, por favor, o canivetezinho para
fazer ponta na peninha" - mas depois limpa o requerente de tal forma que
mal lhe deixa a camisa do corpo.
(…)Foi então
para isso que ela resolveu sair em dia tão chuvoso? Digam-me agora que as
mulheres não são loucas por todos aqueles trapos.
O nosso
director deve ser um homem inteligentíssimo. O seu gabinete está cheio de
armários com livros. Já espiei os títulos de alguns: são todos livros de
erudição, de tamanha erudição que estão fora do alcance de um homem como eu,
pois são escritos em francês ou em alemão. Mas vejam só a cara dele: xi! que
gravidade se irradia daqueles olhos! Nunca o ouvi dizer uma palavra supérflua,
salvo talvez quando lhe entregam os papéis e ele pergunta: - "Que tempo
faz lá fora?" - "Húmido, Excelência." Não, ele não pode ser
comparado aos outros mortais. É um homem de Estado.
Que é que te
faz imaginar que não há, além de ti, nenhuma pessoa decente? Dá-me um fraque de
Rutch talhado na moda, deixa-me amarrar a gravata como a tua está amarrada - e
nem me chegarás aos pés. Falta-me dinheiro, eis a minha infelicidade.
A respeito
dos comerciantes diziam abertamente que enganam o povo, que seus filhos vivem
na pândega e procuram introduzir-se na nobreza. No tocante aos jornalistas,
houve também um couplet muito engraçado, onde se dizia que estes gostavam de
criticar tudo e por isso o autor pedia a proteção do público.
O diretor
gosta de ter na mesa um grande número de penas. Ih! deve ser um homem
inteligente! Está sempre calado, mas dentro daquela cabeça, penso eu, há um
mundo de meditações. Gostaria de saber sobre que coisa ele medita de
preferência, o que é que projeta naquela cabeça. Gostaria também de ver mais de
perto a vida desses senhores, todas essas complicações e truques da gente da
corte, tudo o que fazem na sua roda... tudo isso eu teria vontade de saber.
Suspeito há
muito tempo que o cachorro é mais inteligente do que o homem. Estou até
convencido de que sabe falar, apenas tem uma espécie de teimosia. É um político
extraordinário: observa tudo, todos os passos do homem.
Parece-me
que partilhar com outrem os pensamentos, sentimentos e impressões é uma das
maiores felicidades do mundo.
Ah, minha
querida, como é evidente a aproximação da primavera! Bate-me o coração, como se
esperasse alguma coisa. Nos meus ouvidos há como que um ruído perpétuo, a tal
ponto que muitas vezes, levantando uma perna, fico parada à porta alguns
minutos, atenta. Posso revelar-te que tenho muitos apaixonados. Muitas vezes,
sentada à janela, observo-os. Se soubesses que monstros há entre eles!
Dai-me um
homem! Quero ver um homem, preciso de um alimento que nutra e deleite a minha
alma.
O amor é uma
segunda vida.
Por toda
parte, tudo o que há de melhor no mundo é para os fidalgos da corte ou
generais. Encontra-se um pequeno tesouro, pensa-se atingi-lo com a mão - mas
vem um general, e o arrebata. O Diabo que os leve! Eu também desejaria
tornar-me um general. Não era para obter a mão dela e o resto, não: queria ser
general apenas para ver como eles me cortejariam, como me fariam toda espécie
de cerimónias e salamaleques, e para depois lhes dizer que escarro neles. O
Diabo que os leve, a esses idiotas!
Oh, ele é
ambiciosíssimo; sem a menor dúvida, é maçom, por mais que procure fingir isto
ou aquilo; percebi rapidamente que ele é maçom, porque, ao dar a mão a alguém,
estende apenas dois dedos.
Toda a manhã
de hoje li jornais. Na Espanha estão acontecendo coisas estranhas. Nem consegui
analisá-las bem. Escreve-se que o trono está vago e os graúdos se encontram em
grande embaraço quanto à eleição de um sucessor; daí provém grande indignação.
Acho isso extremamente esquisito. Como pode um trono estar vago? Diz-se que ele
deverá ser ocupado por certa doña. Mas uma dona não pode ocupar um trono, de
maneira nenhuma. Um trono deve ser ocupado por um rei. Sim, diz-se - mas não há
rei. É impossível que não haja rei. Não pode haver Estado sem rei. Há um rei;
apenas, ele se encontra em lugar desconhecido. Talvez se encontre lá mesmo, mas
algum motivo de família, ou o medo de qualquer potência vizinha, como a França
ou outros países, ou algum outro motivo, o obrigue a se esconder.
Até hoje,
não sei como, tudo diante de mim estava como que envolvido em uma espécie de
névoa. E tudo isto, penso eu, vem do facto de que a gente imagina que o cérebro
humano se encontra na cabeça. Pois absolutamente não: ele é trazido pelo vento
do lado do Mar Cáspio.
Como é
insidiosa a natureza feminina! Só agora cheguei a compreendê-la. Até agora
ninguém tinha adivinhado de quem é que a mulher gosta; fui eu quem o descobriu.
Não estou brincando. Os homens de ciência escrevem asneiras, afirmando que ela
gosta disto ou daquilo. Pois bem, ela gosta unicamente do Diabo.
Ainda agora
o Diabo lhe fez um sinal com os dedos. Ela vai casar com ele, vai mesmo. Vêem
todos esses pais de alta categoria a insinuarem-se em toda parte, a treparem
até à Corte, a proclamarem que são patriotas e mais isto e mais aquilo? Pois o
que esses patriotas querem são rendas e nada mais!
A Lua é um
globo tão pouco sólido que nela não pode viver gente de maneira alguma; quem
vive lá são apenas os narizes. Nós justamente não vemos os próprios narizes
porque eles se encontram todos na Lua.
Sem comentários:
Enviar um comentário