segunda-feira, 1 de julho de 2013

Séneca- Medeia

E tu, estrela, que anuncias dois momentos do dia e que regressas sempre tarde para os que se amam: por ti anseiam as mães, ardentemente por ti anseiam as noivas que difundas quanto antes os teus raios de luz.



Ama
Cala-te, peço-te, e enterra os queixumes bem fundo na tua dor. Todo aquele que suportou feridas profundas em silêncio e com um espírito paciente e resignado está apto a restituí-las: o que é malfazejo é a ira dissimulada; o ódio que se declara não encontra ocasião para a vingança.

Medeia
Ligeira é a dor que consegue agir racionalmente e esconder-se em si. Os grandes males não ficam na sombra. Quero atacar!

Ama
Contém esse ímpeto desenfreado, filha. Mesmo a quietude do silêncio dificilmente te protege.

Medeia
A fortuna tem medo dos fortes; aos cobardes, oprime-os.

Ama
A coragem só merece louvor, quando se lhe oferece ocasião.


Medeia
Nunca pode faltar ocasião para a coragem.

Ama
Não há esperança alguma então que aponte uma saída para a tua aflição.

Medeia
Quem já perdeu a esperança não tem por que desesperar.

Ama
Está longe a o teu país, a fidelidade do teu marido é nenhuma, e nada te resta de tão grandes riquezas.

Medeia
Resta Medeia; nela vês mar e terra e ferro e fogo e deuses e relâmpagos!



Uma realeza injusta nunca dura muito tempo.


Quem decide o que quer que seja sem ouvir a outra parte, mesmo que decida com justiça, não é justo.

Quão difícil é desviar da cólera um espírito já por ela inflamado e quão próprio de todo o rei que empunha um ceptro com mãos arrogantes é continuar a caminhar pela via que encetou.


Para quem é pérfido nenhum tempo é curto para prejudicar.


Os nossos pais viveram em tempos magníficos dos quais o embuste estava bem arredado. Cada um ficava tranquilamente nos seus litorais e chegava à velhice nos campos ancestrais, rico com pouco; não conhecia senão as riquezas que o solo pátrio produzia.


Se procuras saber que limite hás-de impor ao teu ódio, ó desditosa, copia o teu amor.


Um amor verdadeiro não há-de temer ninguém.


Só terei descanso quando vir o universo desabar em ruínas juntamente comigo: que tudo desapareça comigo. É agradável arrastar outrem, quando se perece.



Jasão
Não é grata a vida daquele que se envergonha de a ter aceitado.

Medeia
Não a deve conservar quem se envergonha de a ter aceitado.



Jasão
Apavoram-me os altivos ceptros.

Medeia
Zela por não os ambicionares.



A serenidade modera o infortúnio.


Ataca onde não há a possibilidade de alguém ter medo seja do que for.


Nem a violência da chama nem a do vento intumescido nem a do dardo lançado ameaçadoramente é tão grande como quando uma esposa desapossada dos fachos nupciais se inflama e manifesta ódio…


É cego o fogo atiçado pela ira: não procura controlar-se, não suporta freios e não receia a morte; anseia por enfrentar as próprias espadas.


Caminho já trilhado não se paga caro.


Coro
Por que embuste foram apanhados?

Mensageiro
Por aquele que costuma vencer os reis: as dádivas.

Coro
E que traição nelas podia existir? (…)


Entrega-te à ira, desperta desse torpor e, selvática, das profundezas do teu coração exaure por completo os antigos impulsos. Todo o mal que cometeste até hoje chame-se piedade. Vamos!


A ira rechaça a piedade, e a piedade, a ira: cede ao afecto, angústia.




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