Para os
mortais é uma felicidade encontrar quem os conforte no infortúnio.
(…) ele tem
com que se nutrir: mas um desterrado é sempre um indigente.
A compaixão
é natural, não nas naturezas rudes, mas no coração dos sábios; mas a prudência
em excesso pode ser prejudicial a quem a possui.
Ah! Não há
sinal seguro quanto à virtude de um homem. A natureza dos mortais nos induz à
confusão... Já vi o filho de um homem ilustre tornar-se um nulo, e filhos de
criaturas perversas revelarem nobres qualidades. Tenho visto a miséria na alma
de um ricaço, e um belo espírito no corpo de um pobretão. Como havemos de
discernir as coisas? Pela riqueza? Seria um péssimo guia... Pelo que nada tem?
Mas a pobreza não raro instiga ao mal aquele a quem tudo falta. Devemos nos regular
pelas armas? Mas quem pode assegurar, vendo uma lança, que o indivíduo que a
leva é valente? O melhor é deixar correr o mundo...
Os corpos
sem espírito valem menos que as estátuas da ágora. Um braço robusto não sustém
melhor a lança do que um mais fraco; é a índole, e o valor moral que tudo
fazem.
Saiba todo
aquele que corromper a esposa de outrem por uma união adúltera, e que com ela
se consorcia, que é infeliz se supuser que ela lhe concederá a fidelidade que
já não concedera ao outro. Tu vivias miseravelmente, na ilusão de que eras
feliz...
(…) mas
riquezas nada valem, porque são incertas e transitórias... Só a moral
prevalece, e não a pecúnia. A moral granjeia duradouro renome, e triunfa do
infortúnio; a opulência injusta torna-se presa dos perversos, e desaparece dos
lares onde terá permanecido por pouco tempo...
Os
descendentes de homens fortes nascem predestinados à carreira das armas; mas os
filhos dos outros nunca passarão de dançarinos...
E que
ninguém se ufane por ter vencido a primeira corrida; que ninguém se considere
vencedor enquanto não houver atingido o termo da humana vida!
(…) Eu te
falarei, embora saiba que uma mulher, quando perseguida por uma ruim fama, tem
sempre a incredulidade contra suas palavras.
(…) porquanto
os maus, muitas vezes, proporcionam aos bons a oportunidade para a prática de
ações exemplares.
É um louco
aquele que, seduzido pelas riquezas, ou pelo nascimento ilustre de alguém, se
casa com uma mulher perversa. Um casamento humilde e puro leva vantagem, na família,
por sua grandeza.
Há sempre
uma compensação nos grandes males!
Só é ditoso
aquele que tem a consciência tranquila, e não é ferido pelos golpes da
desgraça!
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