(…)Porque é essa certamente a maior segurança, que a mulher
não discorde do marido.
Como uma rocha ou uma onda do mar, assim escuta os amigos,
quando a aconselham.
Estamos perdidos, se ao mal antigo juntamos um novo, antes
de aquele ter murchado.
E quem não é assim dentre os mortais? Ainda agora é que
sabes que cada um se ama mais a si do que ao próximo (…)
(…) e que fará, tão malferida, e implacável uma alma mordida
pela desgraça?
Duro é dos soberanos o querer e, pouco mandados, podendo
muito, dificilmente mudam suas iras. Melhor é o costume de viver na igualdade;
a mim me seja dada velhice tranquila e sem grandezas. Da moderação, vale nome
mais que tudo. Dela usar é bem melhor para os mortais; aos homens de nada serve
passar tal medida. Maior a pena da desgraça que sofrem, quando em fúria o
demónio anda em casa.
(…)Se disseres inábeis e ignaros os antigos mortais, não
erras; eles que para festas, banquetes e ceias acharam da vida suaves acentos,
compondo hinos. Mas entre os mortais, nem um descobriu como fazer cessar com a
musa e o canto multíssono, o hórrido desgosto, donde sai a morte e o fado
terrível. E contudo era bom sarar com cantos os mortais.
Eu sei que muitos dentre os mortais são arrogantes, uns
longe da vista, outros à porta de casa; outros, atravessando a vida com passo
tranquilo, hostil fama que ganharam de vileza. Porque é que não há justiça aos
olhos dos mortais, se alguém antes de bem conhecer o íntimo do homem, o odeia
só de o ver, sem ter sido ofendido? Tampouco louvo do cidadão que é acerbo para
os outros, por falta de sensibilidade.
Para nós, força é que contemplemos uma só pessoa.
Que jamais alguém, que seja por natureza astuto, instrua os
filhos mais do que o preciso, fazendo deles sábios. Porque, além da mancha da
inércia, que têm, ganharão malevolente inveja dos seus concidadãos. É que, para
a multidão ignara, quem for o portador de uma nova sabedoria, passará por
inútil, e não por sábio. E quem, na cidade, for julgado melhor do que aqueles
que aparentam saber muitas coisas será tido como indesejável.
Como eu preferiria
mil vezes estar na linha de batalha a ser uma só vez mãe!
Cheia de medo é a mulher, e vil perante a força e à vista do
ferro. Mas quando no leito a ofensa sentir, não há aí outro espírito que penda
mais para o sangue.
Melhor é para mim mostrar-me agora odioso, ó mulher, do que
gemer depois de enfraquecido.
Dizes palavras brandas ao ouvidos, mas dentro da tua alma
tenho o temor de que premedites algum mal para mim, e tanto mais que antes
acreditei em ti. Porque a uma mulher irascível, tal como a um homem, é mais
fácil guardá-la do que a um sábio silencioso.
Ou pensais que, se o lisonjeei, não era para ganhar ou
tramar alguma coisa?
Além de que nascemos mulheres, para as ações nobres
incapacíssimas, mas de todos os males artífices sapientíssimas.
A fama mudará, trazendo à minha vida glória; a honra virá
para a raça das mulheres e fama inglória não mais nos manchará.
Ó grande malvado – que está é a pior injúria que a minha
língua tem para a tua covardia – tu vieste ter connosco, tu vieste, odiosa
criatura? Isto já não é atrevimento, isto já não é ousadia – olhar de frente
para os amigos a quem se faz mal – mas a maior de todas as enfermidades
humanas, a falta de vergonha. Mas fizeste bem em vir. Porque eu, injuriando-te,
aliviarei a minha alma, e tu, ouvindo-me, passarás pela tortura.
Terrível é a ira, e insanável, quando amigos contra amigos
lançam a discórdia.
(…)todos os amigos fogem de quem é pobre...
Mas a tal ponto chegastes que, estando o consórcio em boa
ordem, vós, mulheres, supondes ter tudo; se, porém, surge algum contratempo no
matrimónio, das melhores e mais belas relações fazem as mais hostis.
Para mim, quem, sendo injusto, é hábil no dizer, merece
muito maior castigo. Com uma língua artificiosa se gaba de enfeitar a injustiça
e ousa cometer o mal; mas ele não é tão destro como isso.
O amor quando é forte nem renome nem virtude dá aos homens.
Ai! mas Vénus, quando é branda, não há deusa mais graciosa!
Dentre as penas maior não há que ser da pátria arrancado.
É que não se pode tolerar que os inimigos escarneçam de nós.
Ninguém me suponha fraca ou débil, nem sossegada; outro é o
meu caráter: dura para os inimigos, benévola para os amigos. Porque de tais
pessoas a vida é gloriosíssima.
Frágil é a mulher e nascida para as lágrimas.
Há um provérbio que diz que os presentes até aos deuses
convencem. O ouro é para os mortais mais potente do que mil argumentos.
Mais potente do que a minha vontade, é a paixão, que é a
causa dos maiores males para os mortais.
Dentre os mortais, quem filhos nunca teve nem experimentou,
digo eu que está no melhor caminho da felicidade, mais que quem os teve. Quem
não tem filhos nem experimentou, seja isso um bem, seja isso um mal para os
mortais – não tendo descendência, muita dor evitam.
Mas aqueles para quem dos filhos em casa existe o doce
rebento, eu vejo o tempo em tormento passar. Como criá-los da melhor maneira,
depois, da vida deixar-lhes os meios? Depois, se para o bem, se para o mal os
criam, e para isso se esforçam, até isso é incerto.
Para que serve então aos homens os deuses, além dos outros
males, um desgosto mais forte que todos ( na vida acharam bem-estar bastante, à
flor da juventude eles já chegaram, e nobres são; mas a sorte o decide, os tira
do caminho e a morte lhes leva dos filhos para o Hades os corpos belos), por
causa de ter filhos, lhe acrescentem?
Aqueles dentre os homens que têm fama de sábios e de
artificiosos nos seus discursos, esses mesmos merecem o maior dos castigos. Dos
mortais, não há um só homem que seja feliz. Pode, se sobrevier à prosperidade,
ser um mais bem-sucedido do que o outro, mas, feliz, não é nenhum.
Por que hesitamos e não executamos os males terríveis, mas
necessários?
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