quinta-feira, 11 de abril de 2013

Eurípedes- Medeia


(…)Porque é essa certamente a maior segurança, que a mulher não discorde do marido.

Como uma rocha ou uma onda do mar, assim escuta os amigos, quando a aconselham.

Estamos perdidos, se ao mal antigo juntamos um novo, antes de aquele ter murchado.

E quem não é assim dentre os mortais? Ainda agora é que sabes que cada um se ama mais a si do que ao próximo (…)

(…) e que fará, tão malferida, e implacável uma alma mordida pela desgraça?

Duro é dos soberanos o querer e, pouco mandados, podendo muito, dificilmente mudam suas iras. Melhor é o costume de viver na igualdade; a mim me seja dada velhice tranquila e sem grandezas. Da moderação, vale nome mais que tudo. Dela usar é bem melhor para os mortais; aos homens de nada serve passar tal medida. Maior a pena da desgraça que sofrem, quando em fúria o demónio anda em casa.

(…)Se disseres inábeis e ignaros os antigos mortais, não erras; eles que para festas, banquetes e ceias acharam da vida suaves acentos, compondo hinos. Mas entre os mortais, nem um descobriu como fazer cessar com a musa e o canto multíssono, o hórrido desgosto, donde sai a morte e o fado terrível. E contudo era bom sarar com cantos os mortais.

Eu sei que muitos dentre os mortais são arrogantes, uns longe da vista, outros à porta de casa; outros, atravessando a vida com passo tranquilo, hostil fama que ganharam de vileza. Porque é que não há justiça aos olhos dos mortais, se alguém antes de bem conhecer o íntimo do homem, o odeia só de o ver, sem ter sido ofendido? Tampouco louvo do cidadão que é acerbo para os outros, por falta de sensibilidade.

Para nós, força é que contemplemos uma só pessoa.

Que jamais alguém, que seja por natureza astuto, instrua os filhos mais do que o preciso, fazendo deles sábios. Porque, além da mancha da inércia, que têm, ganharão malevolente inveja dos seus concidadãos. É que, para a multidão ignara, quem for o portador de uma nova sabedoria, passará por inútil, e não por sábio. E quem, na cidade, for julgado melhor do que aqueles que aparentam saber muitas coisas será tido como indesejável.


 Como eu preferiria mil vezes estar na linha de batalha a ser uma só vez mãe!

Cheia de medo é a mulher, e vil perante a força e à vista do ferro. Mas quando no leito a ofensa sentir, não há aí outro espírito que penda mais para o sangue.

Melhor é para mim mostrar-me agora odioso, ó mulher, do que gemer depois de enfraquecido.

Dizes palavras brandas ao ouvidos, mas dentro da tua alma tenho o temor de que premedites algum mal para mim, e tanto mais que antes acreditei em ti. Porque a uma mulher irascível, tal como a um homem, é mais fácil guardá-la do que a um sábio silencioso.

Ou pensais que, se o lisonjeei, não era para ganhar ou tramar alguma coisa?

Além de que nascemos mulheres, para as ações nobres incapacíssimas, mas de todos os males artífices sapientíssimas.

A fama mudará, trazendo à minha vida glória; a honra virá para a raça das mulheres e fama inglória não mais nos manchará.

Ó grande malvado – que está é a pior injúria que a minha língua tem para a tua covardia – tu vieste ter connosco, tu vieste, odiosa criatura? Isto já não é atrevimento, isto já não é ousadia – olhar de frente para os amigos a quem se faz mal – mas a maior de todas as enfermidades humanas, a falta de vergonha. Mas fizeste bem em vir. Porque eu, injuriando-te, aliviarei a minha alma, e tu, ouvindo-me, passarás pela tortura.

Terrível é a ira, e insanável, quando amigos contra amigos lançam a discórdia.

(…)todos os amigos fogem de quem é pobre...

Mas a tal ponto chegastes que, estando o consórcio em boa ordem, vós, mulheres, supondes ter tudo; se, porém, surge algum contratempo no matrimónio, das melhores e mais belas relações fazem as mais hostis.

Para mim, quem, sendo injusto, é hábil no dizer, merece muito maior castigo. Com uma língua artificiosa se gaba de enfeitar a injustiça e ousa cometer o mal; mas ele não é tão destro como isso.

O amor quando é forte nem renome nem virtude dá aos homens. Ai! mas Vénus, quando é branda, não há deusa mais graciosa!

Dentre as penas maior não há que ser da pátria arrancado.

É que não se pode tolerar que os inimigos escarneçam de nós.

Ninguém me suponha fraca ou débil, nem sossegada; outro é o meu caráter: dura para os inimigos, benévola para os amigos. Porque de tais pessoas a vida é gloriosíssima.

Frágil é a mulher e nascida para as lágrimas.

Há um provérbio que diz que os presentes até aos deuses convencem. O ouro é para os mortais mais potente do que mil argumentos.

Mais potente do que a minha vontade, é a paixão, que é a causa dos maiores males para os mortais.

Dentre os mortais, quem filhos nunca teve nem experimentou, digo eu que está no melhor caminho da felicidade, mais que quem os teve. Quem não tem filhos nem experimentou, seja isso um bem, seja isso um mal para os mortais – não tendo descendência, muita dor evitam.
Mas aqueles para quem dos filhos em casa existe o doce rebento, eu vejo o tempo em tormento passar. Como criá-los da melhor maneira, depois, da vida deixar-lhes os meios? Depois, se para o bem, se para o mal os criam, e para isso se esforçam, até isso é incerto.

Para que serve então aos homens os deuses, além dos outros males, um desgosto mais forte que todos ( na vida acharam bem-estar bastante, à flor da juventude eles já chegaram, e nobres são; mas a sorte o decide, os tira do caminho e a morte lhes leva dos filhos para o Hades os corpos belos), por causa de ter filhos, lhe acrescentem?

Aqueles dentre os homens que têm fama de sábios e de artificiosos nos seus discursos, esses mesmos merecem o maior dos castigos. Dos mortais, não há um só homem que seja feliz. Pode, se sobrevier à prosperidade, ser um mais bem-sucedido do que o outro, mas, feliz, não é nenhum.

Por que hesitamos e não executamos os males terríveis, mas necessários?





 

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