… as pessoas crescidas estão sempre a precisar de
explicações.
As pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma
criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo. Vivi durante
anos e anos no mundo das pessoas crescidas.
Vivi durante anos e anos no mundo das pessoas crescidas.
Vi-as de bem perto. Não fiquei com muito melhor opinião delas. (…) Foi assim
que vivi sempre sozinho (…)
Quando um mistério é grande de mais, não nos atrevemos a
desobedecer.
(…)É que eu gosto que as minhas desgraças sejam levadas a
sério.
(…) Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como
estava vestido. As pessoas crescidas são assim.
As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de
um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: «Como é a
voz dele? A que é que ele gosta mais de brincar? Faz colecção de borboletas?»
Em vez disso, perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele
pesa? Quanto ganha o pai dele?» Só então julgam ficar a saber quem é o vosso amigo.
Se contarem às pessoas crescidas: «Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos
cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado...», as pessoas
crescidas não conseguem imaginá-la. Precisam de lhes dizer: «Hoje vi uma casa
que custou cem mil contos.» Então já são capazes de a admirar: «Mas que linda
casa!»
As pessoas crescidas são mesmo assim. Não vale a pena
zangarmo-nos com elas. As crianças têm de ser muito indulgentes para as pessoas
crescidas.
O meu amigo já se foi embora há seis anos com a sua ovelha.
Se o tento descrever, é só para não me esquecer dele. É tão triste
esquecermo-nos de um amigo! Nem toda a gente teve um amigo na vida… E depois,
posso ficar como as pessoas grandes que já não se interessam senão por números.
(…)O meu amigo nunca explicava nada. Talvez pensasse que eu
era igual a ele. Infelizmente, não sei ver ovelhas através de caixas. Se
calhar, estou um bocado parecido com as pessoas crescidas. Devo ter envelhecido.
Às vezes não faz mal nenhum deixar um trabalho elaborado para
depois (…) Queria precaver os meus amigos contra um perigo terrível que nos
ameaça sabe-se lá desde quando, sem que nenhum de nós suspeitasse.
Sei de um planeta onde há um senhor todo afogueado. Nunca
cheirou uma flor. Nunca olhou para uma estrela. Nunca gostou de ninguém. Nunca
fez senão contas. E, tal como tu, passa o dia a dizer: “Eu sou um homem a
sério! Eu sou um homem sério!” Mas aquilo não é um homem!
Amar uma flor de que só há um exemplar em milhões e milhões
de estrelas basta para uma pessoa se sentir feliz quando olha para o céu.
Porque pensa: «Ali está ela, algures lá no alto…» Mas se uma ovelha comer a
flor, para essa pessoa é como se as estrelas se apagassem todas de repente!
É tão misterioso o país das lágrimas!
(…) mas a flor nunca acabava de se arranjar, de se pôr
bonita (…)
- Ai! Ainda mal acordei... Peço-lhe que me perdoe... Estou
toda despenteada...Mas o principezinho não pôde conter a admiração :
- Mas que flor tão bonita!
- Lá isso é verdade... - respondeu ela, com uma voz muito
suave.
- E nasci com o Sol...
O principezinho suspeitou logo que a modéstia não devia ser
o seu forte; mas era tão enternecedora !
(…) Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não
pelas palavras e sim pelos actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca
devia ter fugido! Devia ter sido capaz de adivinhar toda a ternura escondida
por detrás daquelas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era
novo demais para saber gostar dela.
Tenta ser feliz.
Ainda não tinha aprendido que o mundo se encontra
extremamente simplificado para os reis. Todos os homens são súbditos.
Se eu ordenasse a um general que se transformasse em gaivota
e ele não me obedecesse, o general não tinha culpa. Eu é que tinha.
Se eu ordenasse a um general que voasse de flor em flor como
as borboletas, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em
gaivota e se o general não executasse a ordem recebida, de quem era a culpa:
minha ou dele?
Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar. A
autoridade baseia-se antes de mais , no bom senso. (…)Eu tenho direito de
exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.
- E então o meu pôr-do-sol? - lembrou o principezinho que,
quando fazia uma pergunta, nunca desistia dela.
- Calma, que o hás-de ter. Eu assim o exijo. Mas a minha
ciência da governação recomenda-me que espere pelas condições mais favoráveis.
É muito mais difícil julgarmo-nos a nós próprios do que aos
outros. Se conseguires julgar-te bem a ti próprio, és um autêntico sábio.
As pessoas crescidas são mesmo muito esquisitas.
Para os vaidosos, todos os outros homens são admiradores.
Os vaidosos só ouvem os elogios.
Estás a fazer o quê? Perguntou ao bêbado.
-Estou a beber- respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
-Estás a beber porquê?- perguntou o principezinho.
- Para me esquecer- respondeu o bêbado.
Para te esqueceres de quê?- perguntou o principezinho, que
começava a ter pena dele.
-Para me esquecer que tenho vergonha- confessou o bêbado,
baixando a cabeça.
- Vergonha de quê?- tentou saber o principezinho, cheio de
vontade de o ajudar.
- Vergonha de beber!- concluiu o bêbado, fechando-se
definitivamente no seu silêncio.
Calcula tu que o planeta cada ano gira mais depressa e as
ordens nunca mudam!...
Às vezes, quando queremos ter graça, damos por nós a mentir.
Também se está sozinho ao pé dos homens.
Os homens? (…) nunca se sabe onde encontra-los. O vento
leva-os de um lado para outro. Não têm raízes e isso é muito incómodo para
eles.
Os homens têm cá uma falta de imaginação! Só sabem repetir o
que se lhes diz…
E afinal tinha ali cinco mil rosas, todas iguais, ó num jardim.
(A massificação dos homens)
Julgava-me muito importante por ter uma flor única no mundo
e, afinal, tenho uma rosa vulgar.
- (…) «Cativar» quer dizer o quê?
É uma coisa que toda a gente esqueceu- disse a raposa- Quer
dizer «criar laços»
.…Criar laços?
Sim, laços - disse a raposa. – Ora vê: por enquanto tu não
és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos.
E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não
sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me
cativares, nós passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo
para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti...
(…) Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu caço galinhas
e os homens caçam-me a mim. As galinhas são todas parecidas umas com as outras
e os homens são todos parecidos uns com os outros. Por isso, às vezes
aborreço-me muito. Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol.
Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros
passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora
da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo
ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. E
é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando me
tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me
lembrar de ti. E hei-de gostar do som do vento a bater no trigo…
A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho
durante muito tempo. Se fazes favor… Cativa-me! – acabou finalmente por pedir.
Eu bem gostava – respondeu o principezinho, - mas não tenho
muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer.
Só conhecemos o que cativamos - disse a raposa. - Os homens
deixaram de ter tempo para conhecer o quer que seja. Compram as coisas já
feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram
de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
E tenho de fazer o quê? - disse o principezinho.
Tens de ter muita paciência. Primeiro, sentas-te longe de
mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A
linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas podes sentar-te cada dia um
bocadinho mais perto…
O principezinho voltou no dia seguinte.
Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. – Por
exemplo, se tu vens às quatro horas, às três já eu começo a estar feliz. E
quanto mais perto for da hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de
estar toda agitada e toda inquieta: fico a saber qual o preço da felicidade!
Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar
a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... Precisamos de rituais.
O que é um ritual? - disse o principezinho.
Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a
raposa. - É o que torna um dia diferente dos outros dias e uma hora diferente
das outras horas.
(…)E o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a
hora da despedida:
Ai! – suspirou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar...
A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não te desejava
mal nenhum, mas tu pediste para eu te cativar...
Pois pedi – disse a raposa.
Mas agora vais-te pôr a chorar! – disse o principezinho.
Pois vou – disse a raposa.
Então não ganhaste nada com isso!
Ai ganhei, sim, senhor! - disse a raposa. - Por causa da cor
do trigo… (…) dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo. (…) É muito
simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os
olhos...(...)Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas
tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo
que cativaste.
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua
rosa tão importante.
Nunca se está bem onde se está.
Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede. (O artificialismo do homem)
É bom ter tido um
amigo, mesmo quando se vai morrer.
O que torna o deserto bonito é ele ter um poço escondido
algures por aí….
Casas, estrelas ou desertos, é tudo a mesma coisa: o que
lhes dá beleza nunca se vê.
O que eu estou a ver não passa de uma capa. O mais
importante é invisível…
Os homens bem se encafuam dentro dos comboios, mas já não
sabem do que andam à procura. Andam sempre à roda…
Levei-lhe o balde à boca e ele bebeu de olhos fechados. Tão
boa Tenho sede desta água - disse o principezinho. - Dá-me de beber...
E então soube do que ele andava à procura.
Levei-lhe o balde à boca e ele bebeu, de olhos fechados. Tão
boa! Aquela água era muito mais do que um alimento. Nascera da caminhada sob as
estrelas, do canto da roldana, do esforço dos meus braços. Era boa para o coração,
como uma prenda. O mesmo se passava quando eu era pequeno: as luzes da árvore,
a música da Missa do Galo e a ternura dos sorrisos é que davam o brilho todo ao
meu presente de Natal.
- Os homens da tua terra são capazes de plantar cinco mil
rosas no mesmo sítio... - disse o principezinho. - E, apesar de terem um jardim
com muitas rosas, não descobrem aquilo de que andam à procura...
- Pois não... - respondi eu.
- E podiam descobrir aquilo de que andam à procura numa
única rosa ou num único golo de água.
- Pois era - respondi eu.
O principezinho acrescentou:
- Mas os olhos são
cegos. Só se procura bem com o coração.
Quando nos deixamos cativar, é certo e sabido que algum dia
alguma coisa nos há-de fazer chorar.
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para os
viajantes, as estrelas são guias. Para outros, não passam de luzinhas. Ainda
para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram
outro. Mas todas essas estrelas estão caladas. Tu, tu vais ter estrelas como
mais ninguém…
- isso quer dizer o quê?
-Tu, vais ter as
estrelas como mais ninguém...
- Isso quer dizer o quê?
- À noite, vais-te pôr a olhar para o céu, e porque eu moro
numa delas, porque eu me estou a rir numa delas, então, para ti, vai ser como
ser todas as estrelas se rissem! Vais ser a única pessoa do mundo que tem
estrelas a rir!
Voltou a rir.
- E quando estiveres consolado (afinal acabamos sempre por
nos consolar), vais ficar contente de me teres conhecido. Vais ser sempre meu
amigo. Vai-te apetecer rir comigo. E, às vezes, sem mais nem menos, vais abrir
a janela, só por ser bom… E os teus amigos vão ficar espantados por te verem a
olhar para o céu e a rir. Mas tu dizes-lhes: “Pois é! As estrelas dão-me sempre
vontade de rir!” E eles vão ficar a pensar que não estás bom da cabeça. Bela
partida a minha…
E voltou a rir.
- É como, se em vez de estrelas, te desse quinhentos milhões
de guizinhos a rir.
E, claro, agora já passaram seis anos… nunca contei esta
história a ninguém. Quando voltei, os meus colegas tiveram uma grande alegria
por eu não ter morrido. Eu estava triste, mas dizia-lhes “é do cansaço…”
Depois, fui-me consolando. Enfim… quase. Mas tenho a certeza
absoluta de que o principezinho voltou para o planeta dele. (…) E, à noite,
gosto de me pôr a ouvir as estrelas. São mesmo quinhentos milhões de guizinhos…
Mas passa-se uma coisa extraordinária. Como me esqueci de pôr a correia no
açaimo e como, sem correia, o principezinho nunca se pode ter servido dele,
ando sempre com uma dúvida: a ovelha terá ou não comido a flor?
Umas vezes penso: “Claro que não! O principezinho põe a flor
todas as noites debaixo da redoma de vidro e, de dia,não tira os olhos da
ovelha…” E fico feliz. E todas as estrelas se põem a rir baixinho.
Outras vezes, penso:
“Uma distracção e basta… se calhar, um dia, o principezinho esqueceu-se da
redoma de vidro… ou a ovelha escapou-se-lhe de noite, sem fazer barulho…” E
todos os guizinhos se transformam em lágrimas!
Que grande mistério! Vão ver que também para vocês, que
gostam do principezinho, nada no Universo fica na mesma se algures, não se sabe
bem onde, uma ovelha que nós não conhecemos tiver ou não comido uma rosa… Ora
olhem para o céu e pensem: “A ovelha terá ou não comido a flor?” Vão ver como
tudo muda…
E nunca nenhuma
pessoa crescida há-de entender como isso é importante!
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