quinta-feira, 30 de maio de 2013

Ésquilo- Os Sete de Tebas

Parece-vos, intoleráveis criaturas, que o melhor meio de salvar a cidade e dar coragem aos nossos soldados sitiados é ajoelhar-vos aos pés das estátuas dos deuses com gritos e queixumes que as gentes sensatas, reprovam? Possa eu não ver nunca, nem a desgraça, nem a doce prosperidade, esta corja feminina viver sob o meu tecto! Tomada de medo, é uma audácia intolerável e torna-se um flagelo para a sua casa e para a sua cidade. Correndo assim e vociferando por todo o lado, tirais o valor e a coragem aos defensores da cidade e, em contrapartida, fortificais maravilhosamente o partido do exterior, enquanto cá dentro nos destruímos a nós próprios. Eis o que se ganha em viver com mulheres.

É fugindo da popa para a proa que o navegante encontra o meio de se salvar, quando o navio está a braços com as vagas?

A disciplina é a mãe do êxito que salva.

Quando os homens se abandonam a vãs presunções, a sua linguagem é uma acusação evidente contra eles.

Ah, mau presságio quando um homem justo se associa a mortais ímpios! Em qualquer empresa, nada há de mais funesto que más associações. Quando um homem piedoso embarca com nautas criminosos, acaba por perecer com essa corja odiosa.

O meu espírito está bastante desperto para que o amoleças com palavras.

(…) e a cidade varia frequentemente na apreciação do direito.





domingo, 26 de maio de 2013

Ésquilo- Prometeu Agrilhoado

Um novo senhor é sempre severo!...

Tu serás sempre, ó Poder, destituído de piedade, e capaz de tudo!

É fácil, para quem está no porto, excitar e aconselhar a quem se acha em plena tormenta!


O OCEANO
Ignoras por acaso, ó Prometeu, que um discurso pode minorar a mais terrível cólera?
PROMETEU
Sim, quando se espera o momento oportuno; não se se choca violentamente um espírito irritado.


O sábio que se faz de ingénuo, muita vez realiza melhor seus propósitos.


É sempre um conforto revelar nossas dores àqueles que nos ouvem condoídos, e nos comovem com suas lágrimas.

Trair a verdade é o mais vergonhoso dos vícios.

Mesmo no infortúnio é um consolo saber o que se deve ainda sofrer.

A teimosia não vale tanto como a prudência.

Para o sábio é uma vergonha perseverar no erro cometido.



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ésquilo- Oresteia.As Euménides


Jamais te trairei! Serei até ao fim teu guardião fiel, quer esteja a teu lado, quer nos separem distâncias intermináveis, e em tempo algum protegerei teus inimigos.

E não te deixes dominar pelo cansaço enquanto pastoreias tuas desventuras.

Incita o coração com justas reprimendas, pois elas estimulam as pessoas sábias!

O leito nupcial onde o destino une o homem e a mulher, recebe a proteção de um direito divino, cuja força enorme excede a que garante os santos juramentos.

Insultar quem não nos deu qualquer motivo para ser denegrido ou mesmo censurado, além de ser injusto é contra a equidade.

Digo que os juramentos não têm o poder de transformar uma injustiça em ato justo.

Às vezes o temor é bom e deve,
como se fosse um guardião da mente,
manter-se vigilante em seu lugar.
É útil aprender sabedoria
tendo por mestre o próprio sofrimento.
Quem não refreia o coração com o medo
- tanto as cidades como os habitantes –
 não é capaz de curvar-se à justiça.
Não deveis submeter-vos nesta vida
nem à anarquia nem ao despotismo.
Sempre a prudência é vitoriosa
pois deram-lhe os deuses o privilégio
de limitar até os seus poderes.



A insolência é filha predileta
da falta de respeito às divindades;
ao contrário, a felicidade nasce
da sã razão, e todos os mortais
clamam por ela em suas orações.



A lei suprema impõe que se venere
 o altar santificado da justiça
 em vez de com pás ímpios ultrajá-lo
 cedendo à sedução de uma vantagem;
 o castigo virá e ao desenlace
 nenhuma criatura escapará.


Então, elevem-se acima de tudo
o respeito sempre devido aos pais
 e a hospitalidade a quem a pede.


Quem por si mesmo e sem constrangimento
 sabe ser justo, será venturoso
 e nunca estará totalmente morto.
 Mas o contestador audacioso
 curvado ao peso de muitas riquezas
 amontoadas de qualquer maneira
 e contra os mandamentos da justiça,
 será forçado no devido tempo
 - isso eu garanto! - a recolher as velas
 quando a tormenta de castigos duros
 cair com violência sobre a nau
 partindo o mastro que lhe foge às mãos;
 ele faz preces que ninguém escuta
 e luta inutilmente pela vida
sob o açoite das vagas revoltas.
Os céus riem ao ver o insolente
que não pôde prever a hora trágica
 e agora desespera ao enfrentar
tamanha desventura sem remédio,
 incapaz de vencer os vagalhões.
 No choque violento e irresistível
contra os escolhos da justiça atenta
 o infeliz vê naufragar, perdido,
 sua prosperidade anterior
 e sem uma lamentação sequer
 perece para ser logo esquecido.



domingo, 19 de maio de 2013

Ésquilo- Oresteia. As Coéfores


Ainda que se reunissem todos os rios do universo, eles não poderiam lavar um odioso parricídio.

Mas quem sabe até onde vai a audácia dos humanos, o arrebatamento das mulheres, o transporte do amor, sempre vizinho da desgraça, e a raiva das paixões? O odioso amor, no coração duma mulher, é mais feroz que o homem e o bruto.

Que um homem se vingue dos inimigos, é essa a sua glória: a honra duma mulher está em dirigir em paz a sua casa.

Quantas penas e fadigas perdidas! pois não são necessárias mil precauções para criar uma criança desprovida de razão como o bruto? Envolvida nos cueiros não pode exprimir-se embora esteja atormentada pela fome, pela sede, ou por quaisquer outras necessidades. O fraco instinto a que obedece, é tudo quanto a guia.

A astúcia perde-nos como nos tinha servido...

Finalmente alvorece o dia: o nosso pesado jugo despedaçou-se.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ésquilo- Oresteia. Agamémnon


Zeus  foi quem levou os homens
 pelos caminhos da sabedoria
 e decretou a regra para sempre certa:
"o sofrimento é a melhor lição".


Agora os soldados Aqueus dominam Tróia.
Na praça capturada certamente ouve-se
o burburinho de mil vozes bem distintas.
Derrame-se vinagre e azeite num só vaso;
os dois não se misturarão de modo algum,
como se fossem inimigos acirrados.
Da mesma forma, os brados dos vitoriosos
e os dos vencidos são de todo inconfundíveis;
separa-os diferença enorme de fortunas.


O dom supremo é ter comedimento;
queiramos só os bens inofensivos,
suficientes quando há bom senso,
pois a prosperidade nunca serve
aos que se sobrepõem à justiça.
 Transtorna-os a sinistra Tentação,
insidiosa filha do Delírio:
o mal, então, se torna irremediável;
não se disfarça mais, todos o vêem
 - sinistra, inocultável evidência.


Prosperidade que não cause inveja,
eis meu desejo; não me move a ideia
 de conquistar e destruir cidades,
nem quero ver um dia minha vida
nas mãos de impiedosos vencedores.


É próprio das mulheres acolher
 com avidez rumores agradáveis
 sem guardar a prova da verdade;
se rápida a certeza se insinua
na mente das mulheres, mais depressa
desfaz-se a feminina convicção.


Preferiríamos notícias agradáveis
mas que exprimissem simultaneamente os fatos;
 as falsas alegrias logo se desfazem.



Repetem os mortais há muito tempo
velhíssimo provérbio: “da fortuna
 imensa de um mortal germinam logo males
inda maiores para os seus”.
É diferente o meu entendimento:
ações iníquas geram fatalmente iniquidades
umas sobre as outras, idênticas em tudo à sua origem;
porém nas casas onde houver justiça
jamais filhos perfeitos faltarão.
Uma arrogância mais antiga gera
nova arrogância em meio a gente má
e ao se formar, a vida perpetua
a audácia ímpia como a sua estirpe,
destino negro de mil gerações.
Nos lares mais discretos, todavia,
pode a justiça cintilar constante
enaltecendo a existência simples;
dos palácios dourados onde existem mãos impuras
ela se retira rápida,
olhando para onde houver pureza,
indiferente à força da riqueza
e às suas glórias feitas de ilusões.
E guia tudo para o termo certo.



Salve meu rei, filho de Atreu, herói de Tróia!
Nas homenagens justas que te rendo
procuro resistir à tentação de excessos
mas não desejo aparentar frieza.
Alguns mortais apenas cuidam de aparências
e não se cingem à conveniência.
Dirigem quase todos os infortunados
olhares de piedade simulada,
mas o aguilhão do verdadeiro sentimento
não chega ao coração;
porém se a hora é de compartilhar honestas alegrias
fingem sentir um júbilo real
impondo ao rosto indiferente falso riso.
Ao homem mais vivido, todavia,
conhecedor de sua grei, de seus amigos,
jamais iludirão as aparências;
verá nos corações forçadamente alegres
a hipocrisia da afeição fictícia.


(…)não nego que me pareceste um insensato
e tíbio no timão de tua mente (…)



(…)em gesto unânime os deuses depositaram
seu veredicto na urna sanguinolenta:
"pereça Ílion, seja destruída Ílion"!
A urna do perdão permaneceu vazia;
os votos da esperança não apareceram.
Até agora o negro fumo dos incêndios
é testemunha da destruição de Tróia;
ainda sopram as rajadas do castigo,
e sobe aos céus, das brasas meio consumidas,
o odor de uma opulência reduzida a cinzas.
Por esses fatos temos de testemunhar
contritamente nossa gratidão aos deuses.
Levamos à cidade as penas da vingança;
a luta por uma mulher lhe trouxe a ruína
vinda do monstro argivo, do cavalo enorme
em cujo bojo estavam os soldados prontos,
 irresistíveis no ataque final a Tróia
quando as brilhantes Plêiades já declinavam;
buscando carne humana em todos os redutos
 o régio leão saciou-se de sangue.




(…)há poucos homens
capazes de encarar com naturalidade
a boa sorte de um amigo, sem inveja,
pois o veneno da malevolência vence
e toma posse da alma e dobra as amarguras
dos torturados pelo sórdido despeito
diante da visão da ventura dos outros
em nítido contraste com a má sorte própria.
Sei distinguir uma amizade verdadeira da falsa,
e chamo de simulação de sombras
a hipocrisia dos amigos na aparência.


Se tudo corre bem devemos ter cuidado
a fim de que tenha sequência a boa sorte,
mas onde houver necessidade de remédio
livremo-nos das consequências da doença
cauterizando e extirpando o que vai mal.


(…)e a presumível rebeldia aqui do povo,
capaz de pôr abaixo um dia o fiel Conselho
que sustentava o teu prestígio, pois bem sabes
que os homens tripudiam sobre os derrotados.


Só é feliz de fato o homem cuja vida
transcorre até o fim serenamente próspera.
 Enquanto assim pensar.


Clitemnestra: Não deves, pois, temer que os homens te censurem.
Agamémnon: É muito forte o julgamento popular.
Clitemnestra: Só não existe inveja se não há valor.


Sabia eu que enquanto há seiva na raiz
renascem folhas abundantes,
que protegem a casa da canícula com sua sombra.


Saúde exuberante não perdura
indefinidamente; uma doença,
vizinha atenta, aguarda a sua hora.
Da mesma forma a fortuna dos homens
em sua marcha cega, inexorável,
choca-se um dia contra oculta rocha;
somente se em manobra sábia um pouco
da carga preciosa é posta fora
a nau é salva, salva-se uma parte (…)


Sobe de súbito ao meu coração
o sangue já sem cor, como se fora
de golpe por onde se esvai a vida
na hora de chegar a morte célere.


Ninguém se cansa da prosperidade.
Não lhe resistem nunca as criaturas
 nem se adiantam a fechar-lhe as portas
bradando, o dedo em riste: "Não penetres!"


A tirania é mal pior que a própria morte!



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sófocles- Electra


Não te debatas contra teus inimigos, nem os esqueças: o tempo é um deus conciliador.

Tenta moderar-te! Não vês que teus ressentimentos já te causam grandes mágoas? Alimentando ódios agravas o teu sofrimento com rancor demais; é vão esforço resistir aos poderosos.


(…)
Pode haver ponderação no desespero?
Dizei: é justo neglicenciar os mortos?
Entre que homens se age assim?
jamais me louvem eles!


É muito natural haver hesitação antes de graves e grandes resoluções.

Não aprendeste, que o ódio apenas nutre inúteis esperanças? (…) na desgraça é preferível ser prudente e não premeditar quiméricas vinganças.

(…) Escolhe, entre a prudência hostil aos teus amigos, e a luta perigosa, cara às almas nobres.

Não vivo? Mal eu sei, mas é suficiente. A mim me satisfaz só o bastante para viver em paz com minha consciência.

Se cada um der ouvidos ao que diz a outra, colherão proveito certo as duas.

Revela-me esse quase nada; muitas vozes poucas palavras perdem-nos ou nos salvam.                                                                                                            

Vê se teu próprio julgamento é mais sensato antes de censurar quem discorda de ti.

(…) não sendo mais criança ajo desse modo, mas constrangida por teus péssimos exemplos; o mau procedimento faz proceder mal.

Há um poder estranho na maternidade!... As mães jamais conseguem odiar os filhos, nem quando maltratadas pelos mais perversos!...

Só pusilânimes podem viver sem honra!

A sensatez é proveitosa a quem escuta e a quem fala.

Em que nos aproveitará morrer agora se só depois de mortas nos aplaudirão? Pior que a morte é desejar fugir do mundo, da vida insuportável, e ter de viver!

Atende! Nada é mais benefício aos mortais do que rever e conduzir-se com prudência.

(…) Não era diferente a minha natureza mas meu espírito não amadurecera.

Às vezes a justiça opõe-se à conveniência.

Opinião instável é o pior defeito.

Tens na mais alta conta a tua sensatez. Conserva-te sensata como te supões; dirás nas horas tristes a quem falta senso.

Não podemos ter receios de mulheres indolentes, sempre encerradas em casa, um peso inútil no chão!

domingo, 12 de maio de 2013

Sófocles- Filoctetes


Antes falhar, agindo honestamente, a vencer, procedendo como um vilão.

Quando era jovem, tinha a língua preguiçosa e pronto o braço. Hoje, com a experiência, vejo que, entre os mortais, são as palavras e não as acções que conduzem tudo.

Ó planos dos mortais, ó desventurada raça humana, para os quais a vida não é comedida!

Uma cidade e todo o exército dependem de quem governa. Os mortais que praticam actos injustos, é devido às lições dos mestres que se tornam perversos.

Para as almas nobres, a infâmia é odiosa e a boa açção glória.

Quem está livre de desgraças, tem obrigação de estar atento à desventura. Quem vive feliz, tanto mais deve estar vigilante, não vá cair na ruína, sem de tal se aperceber.

Quem sabe retribuir os favores que recebe é um amigo mais valioso que todas as riquezas.

Tudo é repugnância, quando alguém, traindo a sua natureza, não age como convém a ela.

Desde que seja justo, vale bem mais do que a sabedoria.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sófocles- Antígona




Actuar em vão é coisa que não faz sentido.

Convém principiar por não andar atrás do impossível.

Eu, por mim, não creio que haja mal tão grande como morrer sem honra.

É impossível conhecer a alma, o pensar e a determinação de quem quer que seja, se não o vimos agir, com autoridade, aplicando as leis.


Em minha opinião, aquele que, como soberano de um Estado, não se inclina para as melhores decisões, e se abstém de falar, cedendo a qualquer temor, é um miserável! Quem preza a um amigo mais do que à própria Pátria, esse merece desprezo! Que Júpiter, que tudo vê, saiba que não me calarei se vir a ruína, e não o bem-estar de nosso povo; e jamais considerarei meu amigo quem for um inimigo de meu país!

Mas, pela ambição que estimula, o desejo do ganho muita vez põe a perder os homens...

O que não agrada, a gente hesita em dizer.

Não há, para os homens, invenção mais funesta do que o dinheiro! Ele é que corrompe as cidades, afasta os homens de seus lares, seduz e conturba os espíritos mais virtuosos, e os arrasta à prática das mais vergonhosas ações! Em todos os tempos tem ensinado torpezas e impiedades!

Os ganhos ilícitos têm causado muito maior número de prejuízos, do que de vantagens!

É curioso como um homem que presume tudo descobrir, descobre coisas que não existem!

Os lucros desonestos causam sempre contrariedades.

Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o Homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelos ventos do sul, ele avança, e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor! E a terra, a suprema divindade, que a todas as mais supera, na sua eternidade, ele a corta com suas charruas, que, de ano em ano, vão e vêm, revolvendo e fertilizando o solo, graças à força das alimárias!
A tribo dos pássaros ligeiros, ele a captura, ele a domina; as hordas de animais selvagens, e de viventes das águas do mar, o Homem imaginoso as prende nas malhas de suas redes. E amansa, igualmente, o animal agreste, bem como o dócil cavalo, que o conduzirá, sob o jugo e os freios, que o prendem dos dois lados; bem assim o touro bravio das campinas.
E a língua, o pensamento alado, e os costumes moralizados, tudo isso ele aprendeu! E também, a evitar as intempéries e os rigores da natureza! Fecundo em seus recursos, ele realiza sempre o ideal a que aspira! Só a Morte, ele não encontrará nunca, o meio de evitar! Embora de muitas doenças, contra as quais nada se podia fazer outrora, já se descobriu remédio eficaz para a cura.
Industrioso e hábil, ele se dirige, ora para o bem... ora para o mal... Confundindo as leis da natureza, e também as leis divinas a que jurou obedecer, quando está à frente de uma cidade, muita vez se torna indigno, e pratica o mal, audaciosamente!
Oh! Que nunca transponha minha soleira, nem repouse junto a meu fogo, quem não pense como eu, e proceda de modo tão infame!

Nunca devemos jurar coisa alguma; uma segunda opinião pode desmentir a primeira!

Sempre é mais sensível uma alegria por que não se espera!

É motivo de alegria escapar alguém de uma desgraça; mas é causa de desgosto fazer com que nela caiam pessoas amigas.

Os espíritos demasiados obstinados são, precisamente, aqueles que mais depressa sucumbem! O mais sólido ferro, quando aquecido ao rubro, é frequente vê-lo partir-se e reduzir-se a bocados... Tenho visto cavalos fogosos que um simples freio subjuga... Não convém, pois, exibir um caráter altaneiro, quando se está a mercê de outrem.

Muitas vezes o espírito que pensa em executar uma ação perversa, deixa-se trair por sua perturbação, antes de realizá-la! Mas detesto, também, aquele que, culpado de um crime, procura dar a este um nome glorioso!

Eu não nasci para partilhar de ódios, mas somente de amor!

(...) quem só me ama por palavras, não pode ser, para mim, uma verdadeira amiga.

Os mais corajosos fogem quando sentem que a morte os ameaça!

Não haverá nunca, na vida humana, grandeza ou fausto a que não se misture o travo de alguma desgraça.

A frágil esperança será um bem para muitas criaturas, mas será, para outras, uma ilusão apenas, uma ilusão de seus anelos. O homem, que tudo ignora, deixa-se levar por ela, até que sinta queimar os pés nalguma brasa.

Tudo nos deve provir da vontade paterna. A única razão pela qual os homens desejam que nasçam e cresçam em sua casa novos rebentos, é a certeza de que estes, mais tarde, ataquem o seu inimigo, e honrem o seu amigo, tão bem como o pai o faria. Quem quer que tenha filhos inúteis, não terá feito outra coisa senão angariar para si motivos de desgosto, e para seus inimigos uma fonte de risos. Não abandones, pois, meu filho, pela sedução do prazer, ou por causa de uma mulher, os sentimentos de que estás animado; e sabe que é bem frio, muita vez, o beijo de uma mulher quando é uma esposa má que recebe o marido em casa... Haverá maior flagelo do que um falso amigo?

Se eu tolero a rebeldia daqueles que pertencem à minha estirpe, com mais forte razão transigirei com a de estranhos! Quem é rigoroso na decisão de seus casos domésticos, será também justo no governo do Estado.

Não há calamidade pior do que a rebeldia; ela é que arruína os povos, perturba as famílias, e causa a derrota dos aliados em campanha. Ao contrário, o que garante os povos, quando bem governados, é a voluntária obediência.

Meu pai, ao dotar o homem da razão, os deuses concederam-lhe a mais preciosa dádiva que se pode imaginar. Será, por acaso, certo tudo o que acabas de dizer? Eu não sei... e praza aos deuses que eu não saiba nunca. No entanto, outros há, que podem ter outras ideias.

(…) que melhor alegria terá o pai, do que a glória dos filhos?

Todos quantos pensam que só eles têm inteligência, e o dom da palavra, e um espírito superior, ah! esses, quando de perto os examinamos, mostrar-se-ão inteiramente vazios! Por muito sábios que nos julguemos, não é indecoroso em aprender ainda mais, e em não persistir em juízos erróneos... Quando as torrentes passam engrossadas pelos aguaceiros, as árvores que vergam conservam seus ramos, e as que resistem são arrancadas pelas raízes!

O homem que possuir toda a prudência possível, deve levar vantagem aos outros; mas como tal virtude nunca se encontra, manda o bom senso que aproveitemos os conselhos dos demais.

(…) nós devemos atender às razões, e não à idade.



HÉMON
Ouve: não há estado algum que pertença a um único homem!
CREONTE
Não pertence a cidade, então, a seu governante?
HÉMON
Só num país inteiramente deserto terias o direito de governar sozinho!


Amor, invencível Amor, tu que subjugas os mais poderosos; tu, que repousas nas faces mimosas das virgens; tu que reinas, tanto na vastidão dos mares, como na humilde cabana do pastor; nem os deuses imortais, nem os homens de vida transitória podem fugir a teus golpes; e, quem for por ti ferido, perde o uso da razão! Tu arrastas, muita vez, o justo à prática da injustiça, e o virtuoso, ao crime; tu semeias a discórdia entre as famílias... Tudo cede à sedução do olhar de uma mulher formosa, de uma noiva ansiosamente desejada; tu, Amor, te equiparas, no poder, às leis supremas do universo, porque Vénus zomba de nós!

Mas o destino é inexorável: nem a tempestade, nem a guerra, nem as muralhas, nem os navios sacudidos pelas ondas, podem dele fugir.

O erro é comum entre os homens: mas quando aquele que é sensato comete uma falta, é feliz quando pode reparar o mal que praticou, e não permanece renitente. A teimosia produz a imprudência.

Os homens mais espertos muitas vezes fracassam vergonhosamente, quando falam induzidos pela ambição do ganho!

Ceder, é duro; mas resistir, e provocar a desgraça certa, não o é menos!

Ó vós (…),  não há vida humana, que nós devamos invejar, ou deplorar, enquanto dure... A sorte eleva, ou abate, continuamente, os homens infelizes, e os ditosos; ninguém pode prever que destino está reservado aos mortais.

Quando os homens perdem a razão de ser de sua alegria, eu suponho que não vivem: são apenas cadáveres animados... Acumula em tua casa, se queres, riquezas sem conta; vive com o fausto de um rei; se não possuis a alegria, tudo isto não vale a sombra de uma fumaça, comparado a uma verdadeira felicidade.

(…) um silêncio profundo tem qualquer coisa de ameaçador.

Não formules desejos... Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva!








terça-feira, 7 de maio de 2013

Sófocles-Édipo em Colono


No saber está a precaução das ações.

Estrangeiro em terra estrangeira, infeliz, resigna-te a odiar o que à cidade não é caro e o que lhe é caro, a venerar.

A ninguém vem vingança fatal por vingar-se do que antes se sofreu. Enganos que outros enganos compensam retribuem dor e não favor!

Que homem nobre não é o seu próprio aliado?

Se pelos progenitores alguém padece, não se deve ter em mente o padecer.

Terrível é despertar um mal que jaz (…)

Sei que sou homem e que do amanhã não cabe maior parte a mim do que a ti.

A irritação em males é improfícua!

Muitas vezes, ameaças com muitas palavras vãs ameaçam sob o efeito da ira. Mas, quando a mente torna-se senhora de si, as ameaças deixam de o ser.


Que satisfação é essa: amar alguém contra sua vontade?
Como se alguém nada concedesse a ti,
que rogasses obter algo, nem te quisesse ajudar,
mas, quando tivesses o coração saciado do que desejas,
então concedesse, quando o favor não fosse favor!
Acaso não acharias vão esse prazer?
Porém, também tu me ofereces algo tal:
nas palavras, nobreza; nas ações, males.


Não ordenes sobre o que não tens poder!

Na causa justa, até o fraco vence o forte.

Para a ira não há velhice, apenas morte. Aos que morrem nenhuma dor tange.

Os bens obtidos por dolo e não por justiça não se conservam!

Ao genitor toda prole é cara!

Nada disso (…) tem importância para nós, pois nos ocupamos em tornar a vida ilustre mais com feitos do que com discursos.

Um homem não deve menosprezar um facto!



Quem a um maior quinhão
de vida aspira e deixa passar
a medida, ao meu ver, será
manifestamente estulto.
Posto que os longos dias
muitas provas imputam,
que mais ao pesar se avizinham,
não verias onde está o prazer
quando se vai além do que convém.



 (…)
Mas, posto que se vem à luz,
tornar célere para lá, de onde
se veio, é o melhor a fazer.
Quando passa a juventude,
portadora de brando desatino,
que golpe de cruezas sem fim se exclui?
Que suplício não se inclui?
Ocídios, facções, prélio, pelejas
e inveja. E, por fim, sobrevém
a desprezada, incapaz, inabordável
senectude privada de amigos,
onde todos os males dos males coabitam.
Eis o infeliz! Nisto não estou só!


Muitas palavras, aprazíveis em algo, irritantes ou que causam piedade, provém de algum modo, alguma fala aos afónicos.

Ao bom general cabe dizer coisas úteis e não insuficientes.

(…) aos males ninguém está imune!

Cessai e não mais desperteis o lamento! Pois essas coisas estão totalmente garantidas!







domingo, 5 de maio de 2013

Sófocles- Rei Édipo


É que eu entendo que o mal, se encontra um caminho justo, pode transformar-se em bem completo.

O que se procura facilmente se obtém; escapa o que se descura.

Para quem não há medo na acção, menos medo lhe trazem as palavras.

Como é terrível o saber quando não traz vantagem em possuí-lo.

Não pode tornar-se perverso um espírito que tem discernimento.

… só o tempo mostra a justiça de um homem.

A insolência gera a tirania.

Para que precisava eu de ter vista, se aos meus olhos nada era grato contemplar?

… é doce para o espírito habitar longe dos seus males.

Tudo é justo quando é oportuno.

Sempre que alguém se move com presteza a conspirar na sombra, necessário é que me revele prestes no contra-ataque. Se, pelo contrário, permaneço imóvel, dele será a vitória e meu o desastre.

… aos olhos dos mortais que esperam ver o dia derradeiro, ninguém pareça se feliz, até ultrapassar o termo da vida, isento de dor.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sófocles- Ajax


Rir dos inimigos não é o mais agradável dos prazeres?

Nós, os viventes, não somos mais do que fantasmas ou fugidias sombras.

(…) a inveja persegue os opulentos. E ainda que os pequenos separados dos grandes, dão frágil apoio ao baluarte, todavia o pequeno seria apoio óptimo e manteria de pé o grande.

(…)Se ele sossega, julgo isto uma grande felicidade, porque do mal que desaparece já se faz menos caso.

Ó mulher, o ornato das mulheres é o silêncio.

(… ) desatou em terríveis gemidos; ele que costumava dizer-me que tais gemidos eram próprios de um homem covarde e de fraco ânimo; que, pelo contrário, o que não era tal gemia surdamente, sem gritos à semelhança do mugir do toiro.

Por certo, não deixa de ser uma vergonha que um homem deseje vida larga, se não faz mais do que passar de uma desgraça a outra. Com efeito, que pode aproveitar viver, dia após dia, adiando o desenlace final? Eu não daria o mínimo preço pelo homem que só se entusiasma com vãs esperanças. Não; o que importa ao homem de nobre nascimento é viver bem ou morrer bem. Nada mais tenho a dizer.

O homem que recebeu algum benefício tem obrigação de não o esquecer. Um favor produz sempre outro favor; e nunca diria que é nobre aquele homem que se esquece do benefício recebido.

(…) não há maior felicidade para ti, antes de experimentar a alegria e a dor, do que viver na ignorância.

Não é próprio de um bom médico choramingar esconjuros sobre um mal que exige escalpelo.

O tempo, em seu longo e incomensurável curso, revela todas as coisas ocultas e esconde as que são visíveis. Não há nada que não possa suceder; até se quebra o juramento mais solene e cedem os espíritos mais tenazes.

Até a habilidade e a omnipotência cedem perante os que estão no poder. Igualmente os Invernos nivosos dão lugar aos Estios frutíferos; o tenebroso céu nocturno recua perante o dia de brancos corcéis, para que brilhe em todo o seu esplendor; o sopro das tempestades violentas deixa, por fim, adormecer o mar de gemidos retumbantes; e o sono omnipotente solta os que antes tinha presos e não os mantém sempre no mesmo estado.
E nós porque não aprenderemos a ser sensatos?
Quanto a mim, reconheço agora que o meu inimigo deve ser odiado como se mais tarde devesse ser meu amigo. E quanto ao amigo, quero, no futuro, ser-lhe útil e prestar-lhe os meus serviços como se não houvesse de permanecer sempre meu amigo, porque, entre a maioria dos homens, o porto da amizade não merece confiança.


(…) aqueles que, tendo natureza de homem, concebem pensamentos impróprios de homem…

Aqueles que são falhos de senso só apreciam o bem que tinham entre mãos quando são privados dele.

É, na verdade, próprio de um mau cidadão não querer, como homem particular, sujeitar-se às autoridades. Jamais, com efeito, as leis serão bem observadas naquele Estado em que não reina o medo, nem tão pouco um exército se conservaria em sábia disciplina sem o entrave do medo e do respeito. Um homem deve crer que, apesar de ser grande de corpo, um pequeno mal pode fazê-lo cair. Aquele, em cujo peito o medo e a vergonha dominam juntamente, fica sabendo que vai por bom caminho; O Estado, porém, onde a insolências reina e cada um faz o que quer, crê que, depois de navegar com o vento próspero, se afundará finalmente.
Deixe-me eu, portanto, dominar pelo medo, segundo as circunstâncias; e não julguemos que, fazendo o que nos agrada, não teremos, depois, de sofrer aquilo que nos causa aflição. Tais coisas sobrevêm alternadamente. Este, primeiro, era um petulante fogoso; mas agora, por meu turno, o petulante sou eu.


As palavras ásperas, por muito justas que sejam, ofendem sempre.

Com a justiça por mim, é-me lícito ser altivo.

Não são os homens corpulentos e de espáduas largas quem merece mais confiança; os sensatos, esses é que triunfam por toda a parte. Um boi de grande costado obedece a um pequeno flagelo e caminha direito pela estrada.

Se me maltratares, virá tempo em que desejarás ter sido antes covarde do que ousado para comigo.

Eu perdoo ao homem que, recebendo ultrajes, paga com ultrajes.

Pode o amigo que te é franco contar com a tua amizade não menos do que antes?

Não exultes com vantagens que não dão glória alguma…

Na verdade, muitos são hoje amigos que amanhã serão inimigos.

Eu não tenho o costume de louvar um ânimo inflexível.

É sempre a mesma coisa: todo o homem trabalha em seu próprio interesse.

Muitas coisas, sem dúvida, podem conhecer os homens, por tê-las visto; mas ninguém adivinha o que no futuro sucederá, sem o ver primeiro.










quarta-feira, 1 de maio de 2013

Eurípedes- Íon


És nobre, o teu porte anuncia-o, quem quer que sejas, ó mulher. Assim, a maior parte das vezes, pela simples aparência se mede a qualidade da estirpe.

Muitas são as desgraças que, sob várias formas, atacam os mortais. É muito difícil encontrar a felicidade na existência humana.

Como poderá, pois, admitir-se que vós, deuses, que prescreveis as leis para os mortais, sejais culpados de iniquidade? E tal não pode acontecer, mas ponhamos esta hipótese: se um dia prestásseis contas aos homens dos vossos amores violentos, Apolo, Poseidon e Zeus, senhor do céu, esvaziaríeis os vossos templos, para pagar a pena das vossas faltas. Cometeis injustiça, procurando com afã o prazer sem refletir nas consequências. Não mais será justo censurar os homens por imitarem o que os deuses aprovam. Censurem-me, sim, os que ensinam estas coisas.

É base inabalável de excelsa felicidade para os mortais, que brilhe no lar paterno e vigor juvenil e fecundo dos filhos, herdeiros duma riqueza que passará a nova geração. Eles são, na adversidade, a nossa força, na prosperidade a nossa alegria e com a lança na mão dão à terra pátria a proteção salvadora.

(…) possua eu apenas modesta fortuna, mas alegrada por uma descendência feliz.

O aspecto das coisas não parece o mesmo, quando as examinamos à distância ou de perto. Alegra-me, sem dúvida, a circunstância de ter encontrado em ti um pai; mas atende às seguintes reflexões. Dizem que o povo autóctone e glorioso de Atenas está isento de sangue estrangeiro. Em Atenas cairei, sofrendo do duplo mal de ser filho de um estrangeiro e, ainda por cima, bastardo. Alvo desta censura, se me faltar o poder, serei alcunhado de ninguém, filho de ninguém. Se, pelo contrário, procurar ser alguém, esforçando-me por alcançar a primeira posição da cidade, serei odiado pelos incapazes, porque a superioridade é sempre penosa. Quanto aos que, sendo honestos e capazes de sabedoria, calam-se e evitam lançar-se na vida pública, para estes farei figura de riso e de loucura, por não me manter tranquilo na cidade cheia de receio. E aqueles que forem hábeis na política, se me virem ascender a qualquer dignidade, hão de usar os seus votos contra mim, por que é assim, meu pai, que são as coisas: os que detêm o poder e as honras são maiores adversários para os seus rivais. E indo para casa de outrem, como intruso, para o pé de uma mulher sem filhos, que partilhava contigo a sorte de outrora, e agora, desiludida, suportará com amargura o seu próprio destino, como não serei com razão odiado por ela quando estiver ao teu lado e a tua mulher estéril olhar amargamente o teu filho? Depois, ou tu me trais para gradar a tua esposa, ou arruínas a paz da tua casa para me honrar. Quantos assassínios e mortes por venenos fatais têm as mulheres forjado a seus maridos! Além disso, eu tenho compaixão da tua esposa, meu pai, que envelhece sem filhos e que, nascida de nobres antepassados, não é digna de ser estéril. Doce no aspecto exterior, a soberania, em vão louvada, é amarga por dentro. Quem poderá, pois, dizer-se feliz, quem afortunado, se levar a vida entre temores e suspeitas? Eu antes quero viver feliz como simples cidadão do que como tirano, que se compraz em ter por amigos os perversos e odeia os bons com medo de morrer. Tu dirás que o ouro compensa tudo e que ser rico é agradável. Eu não gosto, para conservar nas mãos uma fortuna, de estar atento a rumores, nem de viver entre preocupações. Uma vida modesta basta-me, desde que eu não me inquiete. Quanto aos bens que eu aqui tinha, meu pai, escuta-me: primeiro o descanso, tão caro ao homem, e a pouca perturbação. Nenhum perverso me fazia sair do caminho: ora, é intolerável ceder a passagem aos maus. Nas preces aos deuses ou no diálogo com os mortais sempre os meus serviços foram motivo de regozijo, nunca de lamentação. Enquanto acompanhava à saída uns visitantes, outros chegavam, de modo que era sempre com agrado que as caras novas se deparava uma cara nova. E em mim se cumpria o que se deve desejar aos homens, mesmo contra a sua vontade: a lei e a natureza faziam de mim um justo servidor do deus. Pensando nisto, julgo que as coisas aqui são melhores dos que as de lá, meu pai. Deixa-me viver neste lugares; com efeito, não tem maior encanto exultar com a grandeza que contentar-se com pouco.

Com amigos é agradável partilhar a felicidade. Mas se – oxalá que tal não aconteça! – sobrevier alguma desgraça, é doce olhar o rosto de um bom amigo.

Lento é o meu pé, mas o espírito ainda é rápido.

Ai! Como sempre odiei os homens perversos, que tramam o mal e o ornam em seguida de amáveis expedientes. Antes quero ter por amigo um ignorante honesto do que um mau mais instruído.

Apenas uma coisa aos servos traz desonra: o nome; em tudo o mais, nenhum escravo é pior que os homens livres, desde que tenha nobres sentimentos.

Em tempo próspero, é belo honrar a piedade; mas, se alguém quer a seus inimigos causar mal, não há lei que o possa impedir.