quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Fiodor Dostoiévski- Crime e Castigo



Pobreza não é vileza, é uma grande verdade. Sei também que bebedeira não é virtude, verdade ainda maior. Mas a miséria é mesmo vileza. Na pobreza ainda conservamos a dignidade dos nossos sentimentos inatos, mas na miséria nunca, nem ninguém. Na miséria não nos correm com um pau, varrem-nos à vassourada da companhia humana, para que seja ainda mais insultuoso; e é justo, já que na miséria eu estou pronto a ser o primeiro a insultar-me a mim próprio.

Bebo porque quero sofrer muito.
O que eu procurei foi a dor, sim, a dor, no fundo da tua garrafa, a dor e as lágrimas, e tive-as e saboreei-as.

E Ele há-de julgar a todos e a todos perdoará, tanto aos bons como aos maus, aos prudentes e aos pacíficos... E, depois de julgar todos, inclinar-se-á também para nós: "Vinde cá", dirá, "vós outros, também, vós, os bêbados, vinde cá, impudicos; vinde cá, porcalhões!" E nós aproximar-nos-emos, sem nos envergonharmos, e deter-nos-emos. E Ele dirá: "Meus filhos! Imagem bestial é a vossa e tendes a sua marca; mas aproximai-vos também". E intervêm os castos, e intervêm os prudentes: "Senhor! Mas vais admitir estes também?" E Ele dirá: "Pois eu os admito, ó castos! Aqui os acolho, ó prudentes! Porque nem um só deles se julgou nunca digno de tal mercê..." E estender-nos-á as suas mãos, e nós outros entregar-nos-emos nelas e romperemos em pranto e compreenderemos tudo... Então, havemos de compreender tudo! E todos hã- de compreender... Senhor venha a nós o vosso Reino!

Compreende, meu senhor, o senhor compreende o que quer dizer isso de não ter para onde ir? Porque todo homem precisa de ter algum lugar para aonde ir!

O bandalho do ser humano habitua-se a tudo!
E se não for verdade? E se na realidade o ser humano, em geral, não for bandalho, todo ele, a espécie humana na sua totalidade? Significa que tudo o resto é preconceito, medos falsos, e então não há limites, e tem de ser assim mesmo!...

O marido não pode dever nada à mulher, e que é muito preferível que a mulher considere o marido um benfeitor dela.

Palavras não são acções.

Vestem o homem com penas de pavão real, até ao último instante contam com o bem e não com o mal, ainda que imaginem o reverso da medalha, por nada deste mundo dizem de antemão a palavra justa; só o terem de pensar nisso lhes custa; diante da verdade tapam os olhos com as mãos, até que o homem que imaginaram aparece e é ele próprio quem lhes abre os olhos.

Sentia-se como se um abcesso que durante um mês amadureceu e o atormentou tivesse rebentado! Liberdade, liberdade!

(…) Matá-la e sacar-lhe o dinheiro, para pôr todo esse dinheiro ao serviço da humanidade e da causa comum: milhares de acções justas não bastarão para expiar um crimezinho minúsculo? Por uma vida- milhares de vidas salvas da podridão e da degradação. Uma morte em troca de cem vidas.

Preocupava-o sobretudo uma questão: porque é que quase todos os crimes se descobrem tão facilmente e por que se encontram tão facilmente as provas de quase todos os assassínios? Pouco a pouco chegou a conclusões tão variadas como curiosas. A seu ver, o motivo principal residia não tanto na impossibilidade natural de ocultar o crime, mas no próprio criminoso; todos os criminosos, sejam eles quais forem, experimentam no momento de cometer o seu crime uma espécie de enfraquecimento da vontade e do raciocínio, estado esse que vem depois a ser substituído por um atordoamento extraordinário e pueril, precisamente no momento em que mais necessárias lhe seriam a razão e a prudência. Esse eclipse do raciocínio, esse desfalecimento da vontade, apoderava-se do homem à maneira de uma doença, desenvolvendo-se progressivamente e alcançando o seu máximo de intensidade momentos antes do cometimento do crime: persistia durante a execução do crime e algum tempo depois, conforme os indivíduos, acabando depois por desaparecer como qualquer outra doença. O problema estava em saber se é a doença que engendra o crime, ou se o próprio crime, por sua natureza, é que é sempre acompanhado de um certo género de doença.

Quando a inteligência fala, o diabo ajuda-a!

Porque é que em todas as grandes cidades as pessoas hão-de preferir, menos por necessidade do que por gosto, viver naqueles bairros onde não há jardins nem fontes, mas apenas lixo e mau cheiro, e a sujidade reina, numa palavra, um nojo?

A pessoa honesta e sensível faz confidências, a pessoa prática ouve e come. E acaba por engolir-te todo, a pessoa prática.

Os princípios! Tu moves-te por princípios, como por molas; não te atreves a actuar livremente; mas, para mim, o fundamental é que o homem seja bom. E, francamente, reparando bem, em todas as classes não há muitas pessoas boas. E mais, estou convencido de que não haveria quem desse nem um alho chocho por toda a minha pessoa e a tua juntas.

Não é repelindo o homem que ele se corrige.

Os erros podem sempre se perdoar; os erros têm de existir, porque levam à verdade. O que é para lamentar é estarem em erro e, ainda por cima, admirarem os próprios erros.

O espírito prático calça botas de adulto.

Antes de mais ama-te a ti próprio, porque tudo no mundo está baseado no interesse pessoal.

 Um condenado à morte no momento de morrer dizia ou pensava que se o deixassem viver num alto, numa rocha e num espaço tão reduzido que mal tivesse onde pousar os pés - e se à volta não houvesse mais que o abismo, o mar, trevas eternas, eterna solidão e tempestade perene -, e tivesse de ficar assim, em todo esse palmo de espaço, a sua vida toda, mil anos, a eternidade...  preferiria viver assim do que morrer imediatamente? O que interessa é viver, viver, viver! Viver, seja como for, mas viver! Deus que grande verdade! O homem é desprezível! Mas também é desprezível o que por esse facto lhe cama desprezível.

 (…) uns atrás dos outros, retrocederam para a porta, empurrando-se, com essa comoção íntima de satisfação que se observa sempre, até nas pessoas mais chegadas, à vista da inesperada desgraça do próximo, e à qual nenhum homem sem exceção escapa, apesar do mais sincero sentimento de piedade e simpatia.

(…) Pensam que eu estou zangado por eles dizerem disparates, laborarem em erro? Tolice! Eu até gosto que eles disparatem, que laborem em erro! O erro é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais! Quem erra chega à verdade! Sou ser humano precisamente porque erro.  Ainda ninguém chegou a uma verdade qualquer sem antes se ter enganado catorze vezes, ou até cento e catorze vezes, e isso é um mérito sui generis; Mas não nem sequer sabemos errar por nossa própria cabeça! Diz-me um disparate, mas à tua maneira, aí dou-te um beijo! Um disparate nosso, à nossa maneira, é quase melhor que uma verdade alheia; no primeiro caso, somos seres humanos, no segundo somos papagaios! Não é a verdade que foge de nós, mas é muito mais fácil dar cabo daquilo que é realmente vida (…) Tomámos o gosto de nos satisfazermos com a inteligência alheia, ganhámos esse hábito! Da papinha já feita!

(…) conservava ainda vestígios da sua passada formosura, isto sem falar em que parecia ter muito menos idade do que aquela que realmente tinha, como costuma acontecer às mulheres que conservaram a limpidez da alma, a frescura de impressões e o honesto e puro fervor do coração, até às proximidades da velhice. Digamos de passagem que conservar tudo isso é o único meio de não perder a beleza, até na velhice!

(…)  tu e ela são muito parecidos. Eu já antes tinha pensado em ti ... Aqui, meu amigo, terás uma espécie de colchão de penas... Sim, e não só de penas. Ah! Aqui, uma pessoa é sorvida com tantos mimos, aqui é o fim da viagem, a âncora de salvação, o porto de abrigo, o umbigo da terra, os alicerces do mundo. São tortas de creme e empadas de peixe, é o samovar da tarde, os suspirozinhos plácidos e os cobertores quentes, as botijas para a cama; enfim, é como se tivesses morrido, mas, ao mesmo tempo continuasses vivo e gozasses das vantagens de ambos os estados, ao mesmo tempo. Porra, chega de tagarelice, já são horas de dormir.

Estar bêbado não justifica nada! É uma desculpa estúpida que humilha ainda mais.

As pessoas são classificadas em “vulgares” e “invulgares”. Os vulgares têm de ser obedientes e não têm o direito de transgredir a lei, porque são vulgares. Os invulgares, por seu lado, têm o direito de cometer crimes e transgredir a lei, precisamente porque são invulgares. (…) ou seja, uma pessoa invulgar, não tem o direito oficial, mas o direito individual de dar à sua consciência a permissão de transpor certos  obstáculos, e isso apenas no caso de a realização da sua ideia o exigir (às vezes uma ideia salvadora para a humanidade).
A meu ver, se as descobertas de Kepler e de Newton, em consequência de certas circunstâncias, não tivessem chegado ao conhecimento dos homens de outra maneira senão mediante o sacrifício da vida de um, dez, cem ou mais homens, que se opusessem a essa descoberta ou se atravessassem no seu caminho como obstáculos, Newton, então, teria tido o direito e até o dever... de eliminar esses dez ou esses cem homens, a fim de que as suas descobertas chegassem ao conhecimento de toda a humanidade. Disso não se conclui, no entanto, de maneira alguma, que Newton tivesse qualquer direito de assassinar quem muito bem lhe parecesse, à toa, nem de ir todos os dias roubar na praça pública (…)também  desenvolvi a ideia de que todos... digamos, por exemplo, os legisladores e os fundadores da humanidade, começando pelos mais antigos e continuando por Licurgo, Sólon, Maomé, Napoleão etc. etc., todos, desde o primeiro até ao último, tinham sido criminosos, visto que, ao promulgarem leis novas, violaram as leis antigas, veneradas religiosamente pela sociedade e pelos antepassados, e visto também que, evidentemente, não se teriam detido perante o sangue, sempre que isso (derramado às vezes com toda a inocência e heroicamente, em defesa das velhas leis) pudesse ser-lhes útil. Também é significativo que a maior parte desses inovadores benfeitores e fundadores da humanidade terem sido uns sanguinários, especialmente ferozes. Em resumo: concluo daqui que todos os indivíduos, não só os grandes, como também aqueles que se afastam um pouco da vulgaridade, isto é, também aqueles que são capazes de dizer qualquer coisa de novo, terem a obrigação, pela sua própria natureza, de serem infalivelmente criminosos. De outro modo, ser-lhes-ia difícil sair da vulgaridade, e eles não podem conformar-se a ficar nela, até pela mesma razão da sua natureza e, a meu ver, têm até a obrigação de não se conformarem.
 Os indivíduos dividem-se, segundo a lei da natureza, em duas categorias: a ordinária (a dos vulgares), isto é, o material, que unicamente é proveitosa para a procriação da espécie, e a dos indivíduos extraordinários que possuem o dom ou a inteligência para dizerem no seu meio uma palavra nova.
É claro que as subdivisões são infinitas, mas os traços diferenciais de ambas as categorias são bem nítidos: a primeira categoria, ou seja, o material, falando em termos gerais, é formada por indivíduos conservadores por natureza, disciplinados, que vivem na obediência e gostam de viver nela. A meu ver têm a obrigação de ser obedientes, por ser esse o seu destino e não ter, de maneira nenhuma, para eles, nada de humilhante. A segunda categoria é composta por aqueles que violam as leis, os destruidores e os propensos a sê-lo, a julgar pelas suas faculdades. Os crimes destes são, naturalmente, relativos e muito diferentes; na sua maior parte exigem, segundo os mais diversos métodos, a destruição do presente em nome da ideia de melhor. Mas se necessitarem, para bem da sua ideia, de saltar ainda que seja por cima de um cadáver, por cima do sangue, então eles, no seu íntimo, na sua consciência, podem, em minha opinião, conceder a si próprios a autorização para saltarem por cima do sangue, atendendo unicamente à envergadura da ideia.
Embora, no fim de contas, não haja razão nenhuma para se ficar demasiado assustado; quase nunca a massa lhes reconhece esse direito, e até os castiga e os manda enforcar (mais ou menos); e assim, com absoluta justiça, cumpre o seu destino conservador, o que não é obstáculo para que, as gerações seguintes, essa mesma massa erga os executados sobre pedestais e se incline diante deles (mais ou menos). A primeira categoria é sempre a verdadeira dominadora: a segunda é... a futura dominadora. Os primeiros conservam o mundo e multiplicam-no matematicamente; os segundos movem-no e conduzem-no para a sua finalidade. Tanto uns como outros têm perfeito direito de existir. Em resumo: para mim, todos têm o mesmo direito, e... vive la guerre éternelle!...
Nem sempre esses homens extraordinários são castigados; alguns, pelo contrário... são festejados em vida . Começam eles também a executar os outros? Se lhes for necessário, sim, e é isso o que acontece na maior parte das vezes.
E, no caso de se dar um engano e algum indivíduo julgar-se pertencente a qualquer dessas categorias, pertencendo afinal à outra, e de se pôr a eliminar toda a espécie de obstáculos? Isso acontece com muita frequência! Mas esse engano só é possível em indivíduos da primeira categoria, isto é, nos indivíduos vulgares. Apesar da sua propensão inata para a obediência, por alguma travessura da natureza, do que nem uma vaca está livre, muitos deles imaginam-se seres avançados, destrutores, e correm atrás da palavra nova, e isso com absoluta sinceridade. Na realidade, e com muita frequência, não sabem distinguir a gente nova e até os olham com desdém, como a pessoas atrasadas e que pensam baixamente. Mas, isso não é motivo sério para inquietação, e, verdadeiramente, não deve sentir o menor desassossego, pois esses indivíduos nunca vão longe. Sem dúvida que poderiam ser castigados uma vez, pela sua presunção, a fim de recordar-lhes qual é o seu lugar; mas, para isso, nem sequer é preciso incomodar o verdugo: são eles mesmos que se flagelam, porque possuem uma alta moralidade; alguns prestam-se mutuamente esse serviço e outros açoitam-se por suas próprias mãos... além disso, impõem-se diversas penitências públicas... o que é belo e edificante, e em suma, não se deve sentir a menor inquietação... É essa a regra.
Em geral, indivíduos com ideias novas, inclusivamente de algum modo capazes de dizerem algo de novo, nascem pouquíssimos, são de uma escassez verdadeiramente estranha. A única coisa certa é que a ordem de geração dos indivíduos de todas essas categorias e divisões deve estar fixamente marcada e definida por qualquer lei natural. Esta lei, claro, até agora é desconhecida; mas eu creio que existe e que, portanto, poderemos chegar a conhecê-la. A enorme massa de indivíduos, a material, vem ao mundo apenas para, finalmente, por meio de algum esforço, em virtude de algum processo até agora ignorado e mercê de algum cruzamento de raças e de espécies, engendrar e trazer ao mundo, ainda que seja só na proporção de um por mil, um homem mais ou menos independente. E, com uma independência mais ampla, talvez só nasça neste mundo um indivíduo por cada dez mil (isto, por alto, naturalmente). E, com uma independência ainda mais ampla, só um por cada cem mil. Homens geniais surgem um entre milhões, e os grandes génios, cúmulo do desenvolvimento humano, talvez ao longo de muitos milhões de milhões de seres humanos aparecerem sobre a Terra.

Quem tem consciência, pois que sofra, se percebeu o seu erro. É o castigo dele.

O sofrimento e a dor são sempre obrigatórios para uma consciência ampla e um coração profundo. Os verdadeiros grandes homens, ao que parece, têm de sofrer de grande tristeza na vida.

Quanto mais manhoso é o indivíduo, menos receia que o vão apanhar com coisas insignificantes. É precisamente ao homem mais manhoso que é preciso apanhá-lo nas coisas mais simples.

Do sublime ao ridículo vai um passo, e que nos julguem os vindouros- Napoleão Bonaparte

(…) piolho estético, e nada mais.

A razão põem-se ao serviço da paixão.

As mulheres têm ocasiões em que lhes é muito, mas muito, agradável serem ofendidas, apesar de toda a sua indignação aparente. Acontece a todos, aliás; o ser humano, em geral, adora ser ofendido.

Imaginamos sempre a eternidade como uma ideia impossível de compreender, uma coisa enorme, enorme! Mas, porquê obrigatoriamente enorme?

(…) pertencia a essa classe de indivíduos que se mostram extraordinariamente amáveis em sociedade e têm grandes pretensões de sê-lo, mas que, mal alguma coisa lhes seja desfavorável, perdem imediatamente todos os seus recursos e ficam mais parecidos com sacos de farinha do que com cavalheiros desenvoltos que amenizam uma reunião.

A agudeza de espírito é uma coisa magnifica, é, por assim dizer, a beleza da natureza e a consolação da vida.

O melhor subterfúgio para o criminoso, é, na medida do razoável, não esconder nada.

(…) orgulho dos pobres, nalguns ritos sociais obrigatórios do quotidiano, os pobres gastam os últimos esforços e os últimos tostões para não se mostrarem “piores do que os outros”, para que esses outros “não critiquem”. (…) Estes paroxismos de orgulho e vaidade costumam acometer as pessoas mais pobres e desvalidas, e às vezes tornam-se uma necessidade frenética e irresistível.

(…) é um ranho com duas pernas.

( …) não fazia outra coisa senão interrogar-me: Porque sou tão parvo que não quero ser mais inteligente, só porque os outros são parvos e eu tenho a certeza disso? Porque eu sabia, que, se estivesse à espera de que os outros todos se tornassem inteligentes, tinha muito que esperar... Além disso reconhecia que os homens não mudam por si e não há quem seja capaz de mudá-los, e que não vale a pena uma pessoa incomodar-se em vão. Sim, é assim mesmo! É essa a lei... é a lei! É assim mesmo! E agora sei, que quem é forte de espírito e inteligência domina sobre eles. Quem muito ousar é que tem razão, para eles. Quem menos escrúpulos tiver será o legislador deles, e o que for mais ousado de todos, é esse o que tem mais razão. Tem sido assim até hoje e assim será para sempre! Só um cego o não vê! Descobri então que o poder é dado àquele que ousar inclinar-se e apanhá-lo. Só existe uma coisa: basta ousar! Cheguei então a uma ideia, pela primeira vez na vida, a que antes ninguém tinha chegado! Vi de repente, de modo claro como o sol: como é que ninguém se atreveu até hoje, nem se atreve, ao passar ao lado de todo este absurdo, em pegar em tudo isto pelo rabo, pura e simplesmente, e a arremessa-lo para o diabo!

(…) tinha na alma suficiente porcaria…

Para formular um juízo imparcial relativamente a certas pessoas, é preciso rejeitar primeiro alguns pontos de vista preconcebidos e a noção habitual que temos das pessoas e dos objectos que nos rodeiam no quotidiano.

Não há no mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil que a lisonja. Se à sinceridade se mistura a mais pequena nota falsa, surge imediatamente a dissonância e, a seguir, um escândalo. Ao passo que a adulação, ainda que seja falsa até a última nota, torna-se simpática e ouve-se com satisfação: mesmo que seja um prazer primitivo, é sempre um prazer. E, por muito tosca que seja a lisonja, metade dela, pelo menos, parece sempre verdadeira à lisonjeada.

Nunca empreendas nada em fúria!

Ter medo por estética é o primeiro sinal de impotência!...

A peste agigantava-se e avançava mais e mais. Somente alguns homens conseguiram salvar-se em todo o mundo, só os homens puros e eleitos, destinados a dar início a um novo género humano e a uma nova vida, a renovar e a purificar a Terra, mas ninguém via esses seres em parte alguma, ninguém ouvia a sua palavra e a sua voz.

1 comentário:

  1. "Palavras não são acções." Toda a palavra pressupõem a simples acção de ser dita.É possível ferir sem agir, é possível agir sem ferir.

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