Irmã, se tu
queres que eu me case, estou disposto também a fazê-lo, com esta condição: ela
chega amanhã e no dia seguinte levam-na para fora de casa. Se é com estas
condições que tu achas bem, então podes vir e preparar o casamento.
Quem depois
de certa idade um homem casa com mulher de meia-idade, e já velho emprenha a
velha, só pode ter um nome para a criança. Sabes qual é? Póstumo.
Não me
importo nada com os grandes luxos, as honras, os dotes faustosos, as
aclamações, o poder, os carros de grande pompa, o vestuário, a púrpura, que
levam os outros homens à servidão
por aquilo que custam.
(…)Isto
parece promessa, mas é pedido. Está ardendo por me devorar o dinheiro. Dum lado
trás a pedra e do outro lado me mostra pão. Não creio em nenhum rico que venha
com tanta generosidade e tanta delicadeza para um pobre. Quando estende a mão
com bondade é porque nela traz alguma rede. Eu bem conheço estes polvos que
prendem tudo aquilo que tocam.
Não há
ninguém que a pobreza tenha feito mais avarento do que a ele.
(…) tu és um
homem rico e poderoso e eu sou um homem pobre, paupérrimo. Se eu casasse
contigo minha filha, estou eu cá a pensar que tu ficarias como boi e eu como
burro; andaríamos jungidos um ao outro e como eu não poderia suportar a mesma
carga, lá ficaria eu deitado como um burro no meio da lama. Tu, como boi,
tratar-me-ias com desprezo, como se eu não fosse gente. Irias ser duro comigo e
não me havia de faltar a troça dos da minha igualha. Depois, se houver qualquer
diferença entre nós, não terei estábulo estável a que me acolher. Os burros
vão-me despedaçar à dentada e os bois vão-me atacar à cornada. É muito perigoso
para eu passar da classe dos burros para a dos bois.
Homens são
assim! Se um rico pede alguma coisa a um pobre, o pobre tem medo de se
comprometer e, por medo, procede mal. E só depois de perder a oportunidade é
que ele se arrepende.
É uma
estupidez e não tem graça nenhuma proceder bem quando é inútil o que se faz.
Contei a
muitos amigos esta minha resolução de casamento; todos louvam a filha de
Euclião e dizem que foi uma resolução avisada e de boa cabeça. Ora, se os
outros ricos fizessem o mesmo com as filhas dos pobres e, mesmo sem dote, se
casassem com elas, não só a cidade viveria em maior paz, como haveria à nossa
volta muito menos inveja do que há. Elas ter-nos-iam mais respeito do que nos
têm e nós faríamos menos despesas do que as que fazemos. Seria ótimo para a
maior parte do povo e só prejudicaria alguns que são ávidos e insaciáveis e que
nem leis, nem magistrados seriam capazes de reter. Naturalmente, dirá alguém,
com quem se casariam então as que são ricas e têm dote, se se estabelece tal
direito para os pobres? Que se casem com quem quiserem, contanto que o dote não
vá com elas. Se isto fosse assim elas levariam, em lugar do dote de agora,
melhores costumes.
Aquela que
não tem dote está sob o domínio do marido. As que têm dote dão cabo dos maridos
com danos e perdas.
Sou eu o
mais desgraçado de todos quantos vivem na terra! Para que preciso eu agora de
vida, em que perdi um tesouro que guardei com tanto cuidado. Roubei-me a mim
próprio, roubei a minha alma, roubei o meu espírito! Agora outros gozam com
ele, para meu mal e prejuízo! Não posso suportá-lo!
Todo o homem
que confessa a sua culpa tem sempre o valor suficiente para se envergonhar e se
desculpar.
A todos a natureza jurou livres e
todos por natureza pensam na liberdade. O pior de todos os males, a pior de
todas as desgraças é a servidão.
O nosso tempo produziu donos
demasiado avarentos… pobres no meio das maiores riquezas e sedentos no seio do
vasto oceano. Não lhes chegam bens nenhuns…
…a nossa época não é muito de boa fé.
Escrevem-se documentos, vêm dez testemunhas, o notário aponta a data e o lugar.
No entanto há sempre um advogado pronto a negar o que se fez.
Sempre pensei que não ter dinheiro
era péssimo para todos, moços, homens e velhos. A indigência obriga os moços a
prostituir-se, os homens a roubar, e os velhos a pedir esmola. Mas é muito pior
o que vejo agora: ter muito mais dinheiro do que aquilo que é necessário.
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