segunda-feira, 1 de julho de 2013

Plauto. Aululari ( A Comédia da Panela)

Irmã, se tu queres que eu me case, estou disposto também a fazê-lo, com esta condição: ela chega amanhã e no dia seguinte levam-na para fora de casa. Se é com estas condições que tu achas bem, então podes vir e preparar o casamento.


Quem depois de certa idade um homem casa com mulher de meia-idade, e já velho emprenha a velha, só pode ter um nome para a criança. Sabes qual é? Póstumo.

Não me importo nada com os grandes luxos, as honras, os dotes faustosos, as aclamações, o poder, os carros de grande pompa, o vestuário, a púrpura, que levam os outros homens à servidão por aquilo que custam.


(…)Isto parece promessa, mas é pedido. Está ardendo por me devorar o dinheiro. Dum lado trás a pedra e do outro lado me mostra pão. Não creio em nenhum rico que venha com tanta generosidade e tanta delicadeza para um pobre. Quando estende a mão com bondade é porque nela traz alguma rede. Eu bem conheço estes polvos que prendem tudo aquilo que tocam.


Não há ninguém que a pobreza tenha feito mais avarento do que a ele.

(…) tu és um homem rico e poderoso e eu sou um homem pobre, paupérrimo. Se eu casasse contigo minha filha, estou eu cá a pensar que tu ficarias como boi e eu como burro; andaríamos jungidos um ao outro e como eu não poderia suportar a mesma carga, lá ficaria eu deitado como um burro no meio da lama. Tu, como boi, tratar-me-ias com desprezo, como se eu não fosse gente. Irias ser duro comigo e não me havia de faltar a troça dos da minha igualha. Depois, se houver qualquer diferença entre nós, não terei estábulo estável a que me acolher. Os burros vão-me despedaçar à dentada e os bois vão-me atacar à cornada. É muito perigoso para eu passar da classe dos burros para a dos bois.


Homens são assim! Se um rico pede alguma coisa a um pobre, o pobre tem medo de se comprometer e, por medo, procede mal. E só depois de perder a oportunidade é que ele se arrepende.


É uma estupidez e não tem graça nenhuma proceder bem quando é inútil o que se faz.


Contei a muitos amigos esta minha resolução de casamento; todos louvam a filha de Euclião e dizem que foi uma resolução avisada e de boa cabeça. Ora, se os outros ricos fizessem o mesmo com as filhas dos pobres e, mesmo sem dote, se casassem com elas, não só a cidade viveria em maior paz, como haveria à nossa volta muito menos inveja do que há. Elas ter-nos-iam mais respeito do que nos têm e nós faríamos menos despesas do que as que fazemos. Seria ótimo para a maior parte do povo e só prejudicaria alguns que são ávidos e insaciáveis e que nem leis, nem magistrados seriam capazes de reter. Naturalmente, dirá alguém, com quem se casariam então as que são ricas e têm dote, se se estabelece tal direito para os pobres? Que se casem com quem quiserem, contanto que o dote não vá com elas. Se isto fosse assim elas levariam, em lugar do dote de agora, melhores costumes.


Aquela que não tem dote está sob o domínio do marido. As que têm dote dão cabo dos maridos com danos e perdas.


Sou eu o mais desgraçado de todos quantos vivem na terra! Para que preciso eu agora de vida, em que perdi um tesouro que guardei com tanto cuidado. Roubei-me a mim próprio, roubei a minha alma, roubei o meu espírito! Agora outros gozam com ele, para meu mal e prejuízo! Não posso suportá-lo!


Todo o homem que confessa a sua culpa tem sempre o valor suficiente para se envergonhar e se desculpar.


A todos a natureza jurou livres e todos por natureza pensam na liberdade. O pior de todos os males, a pior de todas as desgraças é a servidão.


O nosso tempo produziu donos demasiado avarentos… pobres no meio das maiores riquezas e sedentos no seio do vasto oceano. Não lhes chegam bens nenhuns…

…a nossa época não é muito de boa fé. Escrevem-se documentos, vêm dez testemunhas, o notário aponta a data e o lugar. No entanto há sempre um advogado pronto a negar o que se fez.


Sempre pensei que não ter dinheiro era péssimo para todos, moços, homens e velhos. A indigência obriga os moços a prostituir-se, os homens a roubar, e os velhos a pedir esmola. Mas é muito pior o que vejo agora: ter muito mais dinheiro do que aquilo que é necessário.




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