segunda-feira, 1 de julho de 2013

Terêncio- O Eunuco

Fédria:
Que devo fazer, então? Nao ir a casa dela, nem mesmo agora quando ela me mandou chamar, por sua livre vontade? Ela me expulsou e agora me chama de volta: devo voltar? Não, a menos que ela me implore.
Mas, se eu começar e não persistir com empenho… se vier a casa dela, mesmo sem ter feito as pazes, mostrando-lhe que a amo e que não lhe posso resistir, a coisa está feita, está tudo acabado, fico perdido. Ela zombara de mim quando perceber que fui vencido.
Assim, eu reflita mais e mais enquanto é tempo.

Parmenão:
Patrão, uma coisa que não tem em si nem prudência nem moderação, você não pode governá-la pela prudência. No amor estão presentes todos estes vícios: injúrias, suspeitas, inimizades, tréguas, guerra e paz novamente. Se você pretende tornar certas pela razão essas coisas incertas não faça mais nada a não ser que você se esforce para enlouquecer com a razão. E é isto que agora seguramente você está pensando, irado consigo mesmo: “Eu a... ela que o... que me... que não! Sem dúvida, porém, prefiro morrer! Ela perceberá que homem sou eu!”
Por Hércules, uma única lagriminha falsa, que ela terá extraído com muito custo esfregando os olhos com força, destruirá estas palavras e, além disso, ela te acusará, e mais, você vai se oferecer ao suplício!

Fédria:
Oh! Crime indigno! Agora percebo que ela é uma criminosa e eu um infeliz. Isto me aborrece, mas, ao mesmo tempo, ardo de amor, estou morrendo consciente, vivo e vendo, e não sei o que fazer.

Parmenão:
O que fazer? Nada a não ser resgatar-se da escravidão pelo menor preço que puder. Se você não puder por pouquinho, pelo quanto puder. E não se aflija.

Fédria:
É assim que você me aconselha?

Parmenão:
Se você for sensato, não acrescente desgostos além dos que o próprio amor já tem, e mesmo aqueles que já tem, suporte-os bem. Mas ei-la em pessoa saindo, a ruína de nossos fundos. Pois o que nos cabe conservar, ela nos subtrai.



As coisas verdadeiras que ouvi, calo e guardo em segredo muito bem. Se são falsas, infundadas ou inventadas, de imediato elas se tornam evidentes: sou cheio de fendas, deixo escapar aqui e ali. Portanto, se você quer que me cale, deve dizer a verdade.


Há uma espécie de homens que querem ser os melhores em tudo e não são. Procuro esses. Não me ofereço a eles como alvo de chacotas, mas, ao contrário, rio com eles e ao mesmo tempo admiro a inteligência deles. Louvo o que quer que digam; se, ao invés, negam isso, louvo também. O que negam nego, o que afirmam, afirmo. Enfim eu impus a mim mesmo concordar com tudo. Esta profissão agora é muitíssimo vantajosa.




Parmenão:
Estamos cometendo um crime.
Quérea:
Acaso é um crime se eu for levado para a casa de uma cortesã e àquelas cruzes, que tomam posse de nós e de nossa juventude da qual não fazem caso e que sempre nos torturam de todas as maneiras, e agora mostre minha gratidão e as engane do mesmo modo que somos enganados por elas? …
Parmenão:
Se está decidido a fazer, faça. Mas depois não coloque a culpa em mim.



Muitas vezes, quem tem sal toma para si por suas palavras a glória obtida com grande esforço pelos outros. Isso você tem.


Parmenão:
O que você diz, Gnatão? Acaso você tem alguma coisa para desdenhar? E você, Trasão? Calaram-se: muito o elogiam.


Eu um covarde? Nenhum homem que viva é menos.

É burrice aceitar o que você pode evitar.

Conheço o génio das mulheres: quando você quer, elas não querem, quando você não quer, é aí que elas se interessam.

(…) eu ter descoberto como um rapazinho pode a bom tempo tomar conhecimento do caráter e dos costumes das meretrizes, para que, ao ser informado, tome ódio pelo resto da vida.
Elas que enquanto estão fora de casa, nada parece mais asseado, mais afeiçoado a quem quer que seja, nem mais elegante, que quando ceiam com seu amante beliscam a comida.
Ver a imundície, a falta de classe e a pobreza delas, o quanto são desprezíveis e esfomeadas quando estão sós em casa, como devoram pão preto à sopa amanhecida, saber tudo isso é a salvação do rapazinho.








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