Vende borrões nas galerias de arte de Lisboa,
e cujo nome descubro de quando em quando nos jornais, com elogios hiperbólicos
assinados por compinchas do Bairro Alto que o elevam aos píncaros do génio,
como se fosse capaz de melhor do que três ou quatro riscos ao acaso, perante os
quais entendidos de barba se extasiam.
Os moucos nunca compreendem o que a gente
lhes diz, ou se o compreendem, compreendem mal e ofendem-se.
Lisboa aparenta-se a um mendigo ao sol, com
os piolhos dos pardais a escarafuncharem livremente as farripas das árvores.
… e te deposito na vagina dois centímetros cúbicos
de paixão
O Paraíso é uma espécie de clínica para anjos
deprimidos,
e os bigodes dos apóstolos o mata-borrões das suas lágrimas.
e os bigodes dos apóstolos o mata-borrões das suas lágrimas.
A procissão coxeava nas varizes das ruas
tortas da vila, atacada por pandeiretas, clarinetes e trombones, numa pompa
miserável e trágica.
… cheguei ao Porto de comboio, uma cidade
maior do que Évora mas sem sol, castanha e preta como um dente estragado, onde
chovia interminavelmente a água melancólica de um Outono antigo, um desses
Novembros em segunda mão que se compram barato no ferro-velho.
Todos se consideravam com direito a nada num país onde nada é o que geralmente se possui...
Paciência é o género de palavra que irrita
até às tripas qualquer infeliz com vinte e três anos de casado.
Que falta o ódio faz, para nos sentirmos
saudáveis. Acharmo-nos em harmonia com o mundo é uma infecção mortal.
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