sexta-feira, 5 de outubro de 2012

José Cardoso Pires- A República dos Corvos


Está com uma diarreia de língua que não há milagre que a estanque.


Cada homem transporta dentro de si o seu bestiário privado.


O Afecto e o Amor ocupam muitas vezes lugares que o dever não consente.

                                                                                                     
Deus criou o cão que nunca mais o largou e para se ver livre dele criou então o Homem.


As pessoas ainda estão longe de avaliar a importância das palavras na construção da ordem e da consciência.


Enterro de cão, gato não chora.


O amor dos pais só dá meças ao perdão.


Padres, cisco dos céus. Caiam em chuva peneirada sobre os campos à desgraça e em menos de um ámen já eram um extenso prado de hastes negras com as coroas-corolas das cabeleiras a dar a dar.


Fome para eles era o pão de cada dia


Faziam como o mexilhão: Pé na rocha e força contra a maré.


…palavreado para tapar o olho cego. (Ele próprio limpava o rabo aos jornais).


Perder a tempo, é meia vitória ganha.


Burro que aprende línguas, esquece o coice e perde o dono.


O surdo que muito canta acredita que tem boa voz.


Sempre que a mentira bate à porta de um infeliz traz uma enfiada de desgraças na cauda.


Atirava-se ao discurso com aberturas de largos cumprimentos, mas ao entrar no propriamente da matéria punha-se com sustenidos, muitos sins e mais que também e retirava-se às arrecuas, todo vénias.


Fingir de cego é virtude de quem vê de mais.


A presa quando é de respeito mete muitas voltas pelo meio.


… criou então os espelhos da formusura, maldita hora!
     Colocou-os, não em barracões de gargalhadas, como os outros…           
     Foi mal compreendido, para seu grande espanto. Cuspido a seguir; apedrejado depois; e só mais tarde percebeu que aqueles espelhos eram um insulto à natureza defeituosa dos visitantes.
      Éramos felizes, Satanás, gritou-lhe um dos clientes mais fiéis dos espelhos grotescos. Éramos felizes e escorreitos quando nos punhas aquelas carantonhas à nossa frente e agora atiras- nos com a imagem do impossível. Some-te, Satanás dos olhos de anjo!


Não há nada como o tempo para mudar a cor à vida.


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