domingo, 14 de abril de 2013

Eurípedes- Hipólito


Que um ponto não se ofusque a minha glória.


Uns, uns deuses veneram, outros, outros,
Bem como os homens.


Doença é um mal só, mas curar dela
Une à aflição do espírito a fadiga
Que sente o corpo.


Dolorosa é a vida dos humanos,
E descanso não têm em seus trabalhos;
Mas trevas que nos cercam, nos encobrem
Outra vida mais doce: loucamente
Amamos esta luz, que a terra doira,
Porque outra mais formosa não provámos,
Porque ignoramos o que encobre a terra,
Prestando fé a fábulas sonhadas.


Sossego, e ânimo forte levar podem
O mal mais facilmente.
É força que os mortais tenham trabalhos.

Muitas coisas ensina a longa vida.
Muito convinha, que os mortais travassem
Entre si amizades moderadas,
Que não entrassem no íntimo da alma:
E que a prisão, que os corações enlaça,
Fosse fácil, querendo desatá-la,
Ou apertá-la mais.
(…)
É visto, que da vida
O supérfluo cuidado maior dano
Lhe causa, e a não consola; e da saúde
É mortal inimigo: assim não louvo
Excesso e demasia em coisa alguma,
E comigo o dirão todos os sábios.


FEDRA: Que é o que dizem ser, amar os homens?
AIA: Gostoso, filha, e juntamente acerbo.


Da natural razão, que tantas vezes
O pior abraçamos: porque muitos
Têm senso, mas sucede deste modo.
Entendemos o bem, e o conhecemos:
Mas não o executamos, uns por frouxos;
Outros, porque ao honesto preferimos
Outro prazer diverso, pois são muitos
Os prazeres da vida; nestes conto
O excessivo conversar sem tento e fruto;
E o ócio, doce mal: e até o pejo.


A língua é infiel: males dos outros,
E erros alheios consolar bem pode;
Mas a si mesma grandes danos causa.


Oh desgraçada seja
Por mil modos aquela, que primeiro
Seu leito conjugal afrontou, trazendo a ele
Homem estranho; e nas ilustres casas
 Abriu tão torpe e vergonhoso exemplo!
Sim, que quando a torpeza agrada aos nobres,
Os humildes a têm por honra e glória.


(…)que mais conforta a vida,
Que ter desejos, e obras generosas.


O tempo, qual o espelho da donzela
Os torpes mostra, ou agora, ou logo.
Entre estes, oxalá, não seja eu vista.


Amas? que maravilha? muitos amam.
E porque amas, perder queres a vida?
Então amar não devem, os que ora amam,
Nem os que hão-de amar, se a morte é certa.


E quantos cuidas tu muito sensatos,
Que vêem seu leito ir mal, e o dissimulam?
E a quantos erraram com as filhas,
Vénus os ajudou, porque é prudência
Nos mortais encobrir o que é desaire.
Vida não nos convém muito severa.
Nem os tetos, que cobrem nossas casas,
Se obram em perfeição: se estás caída
Em desventura tal, qual me confessas,
Como pretendes dela levantar-te?
Se tu, humana sendo, mais bens logras
Do que são os teus males, és ditosa.


Suporta teu amor; quis dar-to a deusa.
Se mal padeces, teu mal bem termina;
Há encantos, há mágicas palavras,
Que o podem suavizar: algum remédio
Poderemos achar: pois tarde os homens
O que as mulheres não pudermos, achariam.


Eis o que já perdeu nobres cidades,
E famílias, discursos concertados:
Mas dizer não devemos o que agrada,
Mas sim o que nos ganha honra e fama.


Amor, amor, que instilas
Pelos olhos no peito teus afetos,
Doce, e brando prazer introduzindo
N’alma dos que combates,
Não me venhas com dano,
Nem forte e em demasia;
Pois os tiros do fogo,
E do raio não fazem
Mais funestos estragos,
Que as despontadas setas
De amor, que da mão vibra
Eros (Deus do amor)


O Amor é temível,
A todos acomete;
E qual abelha às flores,
Faz vôo aos corações.


Jurou a língua, não jurou a alma.



Como puseste, grande Deus, no mundo
Mulheres, mal espúrio e contrafeito?
Se propagar a nós mortais querias,
Não devias fazê-lo por tal sexo.
Melhor era que os homens ofertassem
Bronze em teu templo, ou ferro, ou peso d’ouro;
E assim comprassem filhos, dando o preço
Digno de cada um: e em suas casas
Vivessem sós e livres de mulheres.
Para trazer à nossa companhia
Este mal, grossas somas despendemos:
Donde se vê, que o dano não é leve.
O pai, que as gera e educa com cuidado,
Para lançar de si este mal grave,
Grande dote acumula: e o que recebe
Este duro infortúnio dentro em casa,
Alegra-se, e orna a infeliz estátua
Com atavios mil, jóias, vestidos.
E assim suas riquezas desperdiça.
A isso é obrigado, que enlaçar-se
Foi a ilustres afins, e o acerbo peso
É força suportar de tal união:
E se alguém conseguiu útil consorte,
E inúteis sogros, esse bem mitiga
O mal um tanto: mas melhor reputo
A tudo isso fugir, ou que na casa
Por sua estupidez a mulher seja
Uma coluna inútil: mulher sábia
Eu a aborreço: em minha companhia
Mulher não veja, que saber pretenda
Mais que a mulher convém: porquanto às sábias
Malignas artes Vénus lhes infunde,
O que por tais, as néscias não aprendem.
Era também razão, que não entrassem
Criadas nas estâncias das mulheres,
E que por companhia só tivessem
Mudas feras; ninguém a elas ouvisse,
E ninguém lhes falasse: porque as servas
Que têm nos aposentos, gente indigna,
E assaz perversa, ali os maus conselhos
Lhes inspiram, dali os levam fora.
(…)
Pereçais todas, quantas sois, mulheres!
Jamais me saciarei de aborrecer-vos.
Ainda que estranhe alguém dizê-lo eu sempre,
Pois que elas sempre, sempre são perversas.
E se alguém me mostrar que elas são castas,
Eu também cessarei de maldizê-las.



Mísero e infeliz é o destino
Do feminino sexo!


Pereça todo o que pretende
Benfazer aos amigos, que o não querem;
E por um modo tão indigno e feio!


Pelos fins julgamos os conselhos.


Tomar muitos cuidados é na vida
Arriscado.


Senhor, tu calas: de nenhum proveito
O silêncio é nos males; e se ansioso
O coração deseja saber tudo,
Até nas desgraças de as saber é ávido.



Ó audácia
Dos mortais, que caís em tantos erros,
Que aos homens ensinais tantas ciências,
Tantas artes achais, tantos inventos,
E uma coisa ignorais inteiramente:
Bom e sábio fazer quem não tem siso.


Oh que devia haver um sinal claro
Entre os mortais acerca dos amigos,
Que desse a conhecer do íntimo d’alma,
Qual fosse o verdadeiro, e qual o falso.
Demais, deviam ter todos os homens
Duas línguas, justa uma e verdadeira,
Outra qualquer que fosse: e quando a injusta
Algum mal meditasse, a verdadeira
A arguisse, por não sermos enganados.


A vã soberba
Dos mortais, seu ousado atrevimento,
Até onde chegará? pois se crescendo
Em cada geração a louca audácia
Dos homens, os vindouros forem sempre
Piores que os passados, será força
Que a esta terra os deuses outra ajuntem,
Que recolha os injustos e os perversos.


E destes tais eu clamarei a todos
Que fujam; pois pretendem com palavras
Formosas granjear estima e fama,
Quando maquinam as ações mais feias.


Já não sei, como algum mortal eu possa
Chamar feliz, se a mor boa ventura
Em desgraça se torna num momento!



(…)Pois muitos, que entre os sábios nada valem,
São destros em falar ao vulgo néscio.


E o estar desviado de perigos
Causa prazer maior, que ser monarca.


Logo desmaio,
Se considero
Nos mortais méritos,
Que mal se ajustam:
Nas aventuras,
Que tanto alternam.
A Sorte troca-se,
A Vida volve-se,
Errante sempre
Por mil desvios.


Estas mercês quisera
Que o Céu me concedesse,
E muito lhas suplico:
Ventura com riqueza,
Ânimo generoso,
Que dores não curvassem,
Costumes, que pudessem
Facilmente amoldar-se
Ao tempo: então vivera
Feliz com muitos outros.
















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