Que um ponto
não se ofusque a minha glória.
Uns, uns
deuses veneram, outros, outros,
Bem como os
homens.
Doença é um
mal só, mas curar dela
Une à
aflição do espírito a fadiga
Que sente o
corpo.
Dolorosa é a
vida dos humanos,
E descanso
não têm em seus trabalhos;
Mas trevas
que nos cercam, nos encobrem
Outra vida
mais doce: loucamente
Amamos esta
luz, que a terra doira,
Porque outra
mais formosa não provámos,
Porque
ignoramos o que encobre a terra,
Prestando fé
a fábulas sonhadas.
Sossego, e
ânimo forte levar podem
O mal mais
facilmente.
É força que
os mortais tenham trabalhos.
Muitas
coisas ensina a longa vida.
Muito
convinha, que os mortais travassem
Entre si
amizades moderadas,
Que não
entrassem no íntimo da alma:
E que a
prisão, que os corações enlaça,
Fosse fácil,
querendo desatá-la,
Ou apertá-la
mais.
(…)
É visto, que
da vida
O supérfluo
cuidado maior dano
Lhe causa, e
a não consola; e da saúde
É mortal
inimigo: assim não louvo
Excesso e
demasia em coisa alguma,
E comigo o
dirão todos os sábios.
FEDRA: Que é
o que dizem ser, amar os homens?
AIA: Gostoso,
filha, e juntamente acerbo.
Da natural
razão, que tantas vezes
O pior
abraçamos: porque muitos
Têm senso,
mas sucede deste modo.
Entendemos o
bem, e o conhecemos:
Mas não o
executamos, uns por frouxos;
Outros,
porque ao honesto preferimos
Outro prazer
diverso, pois são muitos
Os prazeres
da vida; nestes conto
O excessivo
conversar sem tento e fruto;
E o ócio,
doce mal: e até o pejo.
A língua é
infiel: males dos outros,
E erros
alheios consolar bem pode;
Mas a si
mesma grandes danos causa.
Oh
desgraçada seja
Por mil
modos aquela, que primeiro
Seu leito
conjugal afrontou, trazendo a ele
Homem
estranho; e nas ilustres casas
Abriu tão torpe e vergonhoso exemplo!
Sim, que
quando a torpeza agrada aos nobres,
Os humildes
a têm por honra e glória.
(…)que mais
conforta a vida,
Que ter
desejos, e obras generosas.
O tempo,
qual o espelho da donzela
Os torpes
mostra, ou agora, ou logo.
Entre estes,
oxalá, não seja eu vista.
Amas? que
maravilha? muitos amam.
E porque
amas, perder queres a vida?
Então amar
não devem, os que ora amam,
Nem os que
hão-de amar, se a morte é certa.
E quantos
cuidas tu muito sensatos,
Que vêem seu
leito ir mal, e o dissimulam?
E a quantos
erraram com as filhas,
Vénus os
ajudou, porque é prudência
Nos mortais
encobrir o que é desaire.
Vida não nos
convém muito severa.
Nem os
tetos, que cobrem nossas casas,
Se obram em
perfeição: se estás caída
Em
desventura tal, qual me confessas,
Como
pretendes dela levantar-te?
Se tu,
humana sendo, mais bens logras
Do que são
os teus males, és ditosa.
Suporta teu
amor; quis dar-to a deusa.
Se mal
padeces, teu mal bem termina;
Há encantos,
há mágicas palavras,
Que o podem
suavizar: algum remédio
Poderemos
achar: pois tarde os homens
O que as
mulheres não pudermos, achariam.
Eis o que já
perdeu nobres cidades,
E famílias,
discursos concertados:
Mas dizer
não devemos o que agrada,
Mas sim o
que nos ganha honra e fama.
Amor, amor,
que instilas
Pelos olhos
no peito teus afetos,
Doce, e
brando prazer introduzindo
N’alma dos
que combates,
Não me
venhas com dano,
Nem forte e
em demasia;
Pois os
tiros do fogo,
E do raio
não fazem
Mais
funestos estragos,
Que as
despontadas setas
De amor, que
da mão vibra
Eros (Deus do amor)
O Amor é temível,
A todos
acomete;
E qual
abelha às flores,
Faz vôo aos
corações.
Jurou a
língua, não jurou a alma.
Como
puseste, grande Deus, no mundo
Mulheres,
mal espúrio e contrafeito?
Se propagar
a nós mortais querias,
Não devias
fazê-lo por tal sexo.
Melhor era
que os homens ofertassem
Bronze em
teu templo, ou ferro, ou peso d’ouro;
E assim
comprassem filhos, dando o preço
Digno de
cada um: e em suas casas
Vivessem sós
e livres de mulheres.
Para trazer
à nossa companhia
Este mal,
grossas somas despendemos:
Donde se vê,
que o dano não é leve.
O pai, que
as gera e educa com cuidado,
Para lançar
de si este mal grave,
Grande dote
acumula: e o que recebe
Este duro
infortúnio dentro em casa,
Alegra-se, e
orna a infeliz estátua
Com atavios
mil, jóias, vestidos.
E assim suas
riquezas desperdiça.
A isso é
obrigado, que enlaçar-se
Foi a
ilustres afins, e o acerbo peso
É força
suportar de tal união:
E se alguém
conseguiu útil consorte,
E inúteis
sogros, esse bem mitiga
O mal um
tanto: mas melhor reputo
A tudo isso
fugir, ou que na casa
Por sua
estupidez a mulher seja
Uma coluna
inútil: mulher sábia
Eu a
aborreço: em minha companhia
Mulher não
veja, que saber pretenda
Mais que a
mulher convém: porquanto às sábias
Malignas
artes Vénus lhes infunde,
O que por
tais, as néscias não aprendem.
Era também
razão, que não entrassem
Criadas nas
estâncias das mulheres,
E que por
companhia só tivessem
Mudas feras;
ninguém a elas ouvisse,
E ninguém
lhes falasse: porque as servas
Que têm nos
aposentos, gente indigna,
E assaz
perversa, ali os maus conselhos
Lhes
inspiram, dali os levam fora.
(…)
Pereçais
todas, quantas sois, mulheres!
Jamais me
saciarei de aborrecer-vos.
Ainda que
estranhe alguém dizê-lo eu sempre,
Pois que
elas sempre, sempre são perversas.
E se alguém
me mostrar que elas são castas,
Eu também
cessarei de maldizê-las.
Mísero e
infeliz é o destino
Do feminino
sexo!
Pereça todo
o que pretende
Benfazer aos
amigos, que o não querem;
E por um
modo tão indigno e feio!
Pelos fins
julgamos os conselhos.
Tomar muitos
cuidados é na vida
Arriscado.
Senhor, tu
calas: de nenhum proveito
O silêncio é
nos males; e se ansioso
O coração
deseja saber tudo,
Até nas
desgraças de as saber é ávido.
Ó audácia
Dos mortais,
que caís em tantos erros,
Que aos
homens ensinais tantas ciências,
Tantas artes
achais, tantos inventos,
E uma coisa
ignorais inteiramente:
Bom e sábio
fazer quem não tem siso.
Oh que devia
haver um sinal claro
Entre os
mortais acerca dos amigos,
Que desse a
conhecer do íntimo d’alma,
Qual fosse o
verdadeiro, e qual o falso.
Demais,
deviam ter todos os homens
Duas
línguas, justa uma e verdadeira,
Outra
qualquer que fosse: e quando a injusta
Algum mal
meditasse, a verdadeira
A arguisse,
por não sermos enganados.
A vã soberba
Dos mortais,
seu ousado atrevimento,
Até onde
chegará? pois se crescendo
Em cada
geração a louca audácia
Dos homens,
os vindouros forem sempre
Piores que
os passados, será força
Que a esta
terra os deuses outra ajuntem,
Que recolha
os injustos e os perversos.
E destes
tais eu clamarei a todos
Que fujam;
pois pretendem com palavras
Formosas
granjear estima e fama,
Quando
maquinam as ações mais feias.
Já não sei,
como algum mortal eu possa
Chamar
feliz, se a mor boa ventura
Em desgraça
se torna num momento!
(…)Pois
muitos, que entre os sábios nada valem,
São destros
em falar ao vulgo néscio.
E o estar
desviado de perigos
Causa prazer
maior, que ser monarca.
Logo
desmaio,
Se considero
Nos mortais
méritos,
Que mal se
ajustam:
Nas
aventuras,
Que tanto
alternam.
A Sorte
troca-se,
A Vida
volve-se,
Errante
sempre
Por mil
desvios.
Estas mercês
quisera
Que o Céu me
concedesse,
E muito lhas
suplico:
Ventura com
riqueza,
Ânimo
generoso,
Que dores
não curvassem,
Costumes,
que pudessem
Facilmente
amoldar-se
Ao tempo:
então vivera
Feliz com
muitos outros.
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