domingo, 7 de abril de 2013

Marguerite Duras- Os Insolentes


Durante vários meses o casal pudera levar uma existência daquele género de que se diz que é fútil por não ter um propósito, mas que, na realidade, é bastante difícil viver: uma existência ociosa perfeitamente egoísta, mesmo quando apresenta uma aparência de generosidade, e que consiste na sucessão ininterrupta de prazer e de descanso, no exorcismo contínuo do aborrecimento.

Assim se desfazia das coisas como das pessoas depois de as ter amado com violência, era incapaz de se ligar profundamente ao mesmo objecto.

Mas, infelizmente, pode-se sonhar durante muito tempo com uma coisa que se revela decepcionante quando surge a oportunidade de ser realizada, porque acaba sempre por ser menos brilhante do que se esperava.

Soube refrear a sua imaginação, que de resto nunca a cegara. Nela a paixão assumia, normalmente, um ar ponderado e exprimia-se habilmente.

Não se submetia a nenhuma obrigação, a não ser, talvez, a de se deixar viver.

Acreditou que a felicidade era apanágio desses momentos mágicos em que todas as dificuldades se dissipavam no próprio núcleo da desordem que gera uma catástrofe.

A beleza mesmo sendo grande, precisa de autoconsciência para se afirmar.

Quando lhe pediam a opinião, o prazer que lhe dava a consulta era tão grande que o fazia durar até ele próprio já não conseguir aguentar a impaciência.


Sem comentários:

Enviar um comentário