Durante
vários meses o casal pudera levar uma existência daquele género de que se diz
que é fútil por não ter um propósito, mas que, na realidade, é bastante difícil
viver: uma existência ociosa perfeitamente egoísta, mesmo quando apresenta uma
aparência de generosidade, e que consiste na sucessão ininterrupta de prazer e
de descanso, no exorcismo contínuo do aborrecimento.
Assim se
desfazia das coisas como das pessoas depois de as ter amado com violência, era
incapaz de se ligar profundamente ao mesmo objecto.
Mas,
infelizmente, pode-se sonhar durante muito tempo com uma coisa que se revela
decepcionante quando surge a oportunidade de ser realizada, porque acaba sempre
por ser menos brilhante do que se esperava.
Soube
refrear a sua imaginação, que de resto nunca a cegara. Nela a paixão assumia,
normalmente, um ar ponderado e exprimia-se habilmente.
Não se
submetia a nenhuma obrigação, a não ser, talvez, a de se deixar viver.
Acreditou
que a felicidade era apanágio desses momentos mágicos em que todas as
dificuldades se dissipavam no próprio núcleo da desordem que gera uma
catástrofe.
A beleza
mesmo sendo grande, precisa de autoconsciência para se afirmar.
Quando lhe
pediam a opinião, o prazer que lhe dava a consulta era tão grande que o fazia
durar até ele próprio já não conseguir aguentar a impaciência.
Sem comentários:
Enviar um comentário