domingo, 9 de junho de 2013

Aristófanes- Lisístrata-A Greve do Sexo

(Cansadas de uma guerra que já durava 20 anos, as mulheres de Atenas, de Esparta, de Beócia e de Corinto (cidades gregas mais duramente atingidas pela), chefiadas pela ateniense Lisístrata, decidiram por fim às hostilidades usando de uma tática pouco ortodoxa: uma greve de sexo. Para melhor conseguir seu objetivo ocuparam a cidadela de Atenas – a Acrópole, e tomaram conta do Tesouro. Os maridos não resistiram à greve e concluíram um tratado de paz, depois de uma série de peripécias de grande efeito cômico apesar da ousadia dos detalhes.)


Se fosse para uma bacanal ou coisa parecida nem teria sido necessário convidá-las. Como é para coisa séria, até agora nenhuma mulher apareceu.


Lisístrata – Quero falar sobre uma coisa...
Cleonice – É grande a coisa?
Lisístrata – Muito grande!
Cleonice – Então todas já deviam ter chegado!
Lisístrata – (com ar de desânimo): A coisa não é essa que você está a pensar! Se fosse já estariam todas aqui há muito tempo. Trata-se de outra coisa, que está remexendo aqui em minha cabeça, que me faz ficar na cama virando para um lado e para outro há muitas noites.
Cleonice – Então essa coisa que faz você se virar tanto deve ser o máximo! Lisístrata - É sim, e a salvação da pátria depende do apoio das mulheres à minha ideia.
Cleonice – Das mulheres? Fraco apoio...


…E que espera você que as mulheres façam de sensato ou de extraordinário, nós que vivemos diante do espelho às voltas com a nossa “maquilagem”, nossos vestidos, nossa roupa de baixo, nossas sandálias?


Lisístrata – Muito bem: vocês terão de se privar... de fazer amor! Ei! Por que vocês estão a ir embora? Aonde vocês vão? Por que estão com essa cara amuada e a coçar a cabeça? E essas lágrimas? Vocês vão ou não vão fazer o que eu disse? Qual é a dificuldade?
Cleonice – Isso eu não posso fazer. Deus me livre! Antes a guerra!
Mirrina – Nem eu. Deus me livre! Prefiro a guerra!
Cleonice – Faço qualquer coisa que você queira. Se for preciso andar descalça em cima de uma fogueira, conte comigo. Antes isso que passar sem fazer amor. Isso é insubstituível, minha querida!
Lisístrata – (dirigindo-se a Mirrina) E você?
Mirrina – Eu também prefiro andar por cima da fogueira da Cleonice.
Lisístrata – Ó sexo dissoluto! Não escapa uma! Não é sem razão que somos assunto de tudo quanto é tragédia. Quando vocês não estão a pensar num homem é porque estão a pensar em vários! (dirigindo-se a Lampito). Mas minha querida espartana, você parece a única que está comigo. Unamo-nos! Ainda poderemos salvar a situação!
Lampito – É doloroso para uma mulher dormir sozinha, sem uma certa coisa... Em todo caso, estou resolvida, pois precisamos de paz!
Lisístrata – Querida! Você é a única mulher de verdade entre todas essas aí! Cleonice – E se, na medida do possível, nós nos privássemos disso que você disse – Deus me livre! – você garante que conseguiríamos a paz? Será que não há outro meio?
Lisístrata – O meio é exatamente esse! Se ficamos em casa, bem pintadas, com vestidos transparentes, deixando ver certos lugares bem depiladinhos, e quando nossos maridos avançarem para nós, taradinhos, loucos para nos agarrar, nós não deixarmos, garanto que eles votarão logo pela paz!
Cleonice – E se nossos maridos nem perceberem nossos encantos à mostra?
Lisístrata – Eles vêem até o que está escondido, minha filha, quanto mais o que se mostra!...
Cleonice – Eu acho tudo isso uma estupidez. Não gosto de fingir. Mas se eles nos agarrarem e nos levarem à força para o quarto?
Lisístrata – Vocês seguram-se à porta.
Cleonice – E se eles baterem em nós?
Lisístrata – Em último caso, vocês deixam, mas de má vontade e sem cooperar. Não há prazer nessas coisas quando forçadas. Além disso é preciso faze-los sofrer. Fique tranquila; eles entregarão logo os pontos pois o homem sem mulher não tem prazer em nada.


Cleonice – Você não receia que os homens contra-ataquem daqui a pouco?
Lisístrata – Não tenho medo deles. Só abriremos as... portas quando aceitarem as nossas condições.
Cleonice – Isso mesmo, ou então não mereceríamos a fama de criaturas mais perigosas do mundo.



1.º Velho – Que negócio é esse, flagelo dos deuses? Que é que você vai fazer com essa água?
1.ª Mulher – E você com esse fogo, sepultura ambulante? Será para reacender o seu... entusiasmo, que está apagadinho?


Mulher só sabe falar alto!

(…)Bem feito! Nós deixamos as mulheres mostrarem a sua ruindade e depois queixamo-nos. Há maridos que vão ao joalheiro e dizem: “Você lembra-se daquele colar de minha mulher que você consertou? Um dia destes ela estava a dançar e aquela coisa pendurada voltou a cair. Eu vou viajar hoje e você bem que podia passar lá em casa para falar com minha mulher e pôr a coisa pendurada no lugar!” outros vão ao sapateiro, homem de grande negócio e dizem: “O dedinho da minha mulher está todo ferido pela argola daquela sandália que comprei aqui para ela. Passe lá em casa ao meio-dia para alargá-la!” O resultado é esse.

Se você puser as mãos em cima dela eu esvazio suas tripas a pontapés!


(…)Então é por causa do dinheiro que fazemos guerras?
Lisístrata – Sim senhor! Vocês e todos os outros. É para poderem roubar nos cargos públicos que vocês vivem armando encrencas. Vocês podem fazer o que quiserem mas no dinheiro do povo, que está lá dentro, ninguém põe a mão!

No princípio da guerra nós, com a moderação própria das mulheres, suportámos tudo de vocês, homens (como vocês fizeram tolices!), pois vocês não nos deixavam abrir a boca. E vocês não faziam coisa alguma para nos agradar. Nós, que vos conhecíamos muito bem, quando às vezes ficávamos sabendo de resoluções desastradas sobre assuntos importantíssimos, perguntávamos aos nossos maridos: “Que foi que decidiram hoje na Assembleia a respeito da paz?”. “Que é que  tens a haver com isso?”, dizia meu marido; “Cale-se!”. E eu calava-me.
 As resoluções pioravam cada vez mais. E eu perguntava: “Mas meu marido, como é que vocês podem fazer tantas tolices?” E ele, olhando para mim de cima para baixo, dizia: ”Se você não voltar já para as suas agulhas e linhas vai ver…! A guerra é assunto para homens, como dizia o poeta.”Pois eu calava-me. As resoluções pioravam cada vez mais. E eu perguntava: “Mas meu marido, como é que vocês podem fazer tantas tolices?” E ele, olhando para mim de cima para baixo, dizia: ”Se você não voltar já para suas agulhas e linhas vai ver…! A guerra é assunto para homens, como dizia o poeta.”
Vocês tomavam resoluções idiotas e nós não podíamos nem dar conselhos. Mas quando ouvíamos dizer nas ruas: “Não há mais homens nesta terra?”  a resposta era “Não; acabou!”…

Lisístrata – Mas se o doce amor encher nosso corpo de desejos e deixar os homens com um entusiasmo de endurecer o... coração, creio que mereceremos as maiores recompensas.
Comissário – Por haver feito o quê
 Lisístrata – Por haver feito que não haja mais soldados fanfarrões desfilando sua vaidade nas ruas! Pois atualmente as ruas estão repletas deles, passeando cheios de armas e pose, mais duros que postes!
Comissário – É a atitude que convém aos bravos.
Lisístrata – Com toda essa bravura fica muito difícil andar por aí de capacete e escudo a fazer comprinhas...
Cleonice – Exatamente! Um dia desses vi um comandante de cavalaria parado perto de uma vendedora ambulante, montado, tomando sopa de legumes no capacete. Vi outro com suas armas treinando pontaria em figos e azeitonas, assustando todo mundo...

Lisístrata –  Se vocês tivessem juízo prestariam mais atenção à nossa linha para não fazerem asneiras em todas as situações complicadas.
Comissário – Como? Vamos! Diga!
Lisístrata – Primeiro, só usaríamos a linha dura. Depois, é tanta gente a querer ocupar os cargos públicos que é como se quisesse enfiar uma porção de linhas ao mesmo tempo no buraco de uma agulha só. Isso não vai mais acontecer! Só entra na agulha linha fina. Linha que pretenda engrossar não entra! Mas para os esforços maiores cada um terá de cooperar com sua linha até formarmos uma corda bem forte, obra da boa vontade de todos, nacionais e estrangeiros. Mais ainda: com muita linha poderemos fazer tecidos para vestir todo o povo!
Comissário– Não é mesmo um desaforo misturar assuntos tão sérios com linhas e agulhas? Bem se vê que elas nunca tomaram parte de uma guerra!
Lisístrata – Você é mesmo um retardado! O fato é que nós, as mulheres, sofremos duplamente com a guerra. Primeiro, quando levam nossos filhos para combater...
Comissário – Cale a boca, mulher! Não fique recordando coisas tristes!
Lisístrata - ...Depois, quando o natural seria experimentar os prazeres da vida e gozar a mocidade com os nossos maridos, ficamos em casa sozinhas por causa da guerra. Não quero nem falar no que nós, as casadas, sofremos com isso, mas para as solteiras ainda é pior, pois elas envelhecem solitárias em seus quartos. Sabe lá o que deve ser isso?
 Comissário– E os homens por acaso não envelhecem?
Lisístrata – Não é a mesma coisa! Um homem quando volta da guerra, por mais velho que seja, trata logo de casar com um rebento. E a mulher, que tem a vida ativa mais curta? Se não aproveitar essa fase ninguém mais vai querer casar com ela. A solteirona passa o resto da vida esperando uma coisa que não vem...
Comissário – Mas todo o homem como eu, ainda é capaz de dar o que vocês querem...
Lisístrata – Essa é fina! Logo você, que não sei o que está à espera para morrer! O chão está aí; é só arranjar um buraco. Eu até o ajudo a enterrar.
Cleonice – E eu faço uma mortalha.
Mirrina – E eu ponho uma coroa em cima.
Lisístrata – Então? Não falta mais nada. A morte está chamando. Vá logo!


Não é crime ter nascido mulher e o sexo não me impede de ter ideias melhores que as que andam por aí. Posso dar ao país outras coisas boas além dos filhos que já dei!


2.º Velho – (…) Vamos sacudir nossa velhice e dar asas ao nosso corpo!
1.º Velho – Isso mesmo! Se cedermos um passo essas gaiatas tomarão conta de tudo! Daqui a pouco elas vão querer substituir os homens até na cavalaria. E nisso elas têm mais facilidade, pois não há nada que atrapalhe na hora de montar... Vamos, pessoal! Vamos pôr umas coleiras no pescoço delas!
2.ª Mulher – Se a coisa continuar a aquecer eu vou acabar a ferver e vai sobrar bolha em você! (às outras mulheres) Se o caso é de mostrar a... valentia vamos tirar mais roupa, para eles verem como nós estamos tinindo de raiva! Quem quiser apanhar primeiro venha!
1.ª Mulher –Vocês não podem passar sem nós! Sozinhos vocês só sabem fazer decretos! Enquanto nós não pegarmos vocês pelas... pernas e os jogarmos num precipício para quebrar o pescoço, vocês não pararão de fazer esses decretos horrorosos!


Lisístrata – Raça ruim a das mulheres! Se eu não fosse durona já teria desanimado com a fraqueza delas! Parecem brotinhos de coração mole. E eu fico andando de um lado para outro sem saber o que fazer!
1.ª Mulher – Não esconda nada de mal que esteja acontecendo!
Lisístrata – Não adianta pedir o auxílio divino. O caso é sério mesmo. Já não consigo mantê-las longe dos maridos; elas fogem. Surpreendi uma, há poucos instantes, abrindo uma brecha no muro; outra descia para a rua por uma corda; outra saiu a correr ao encontro do inimigo; outra já estava para se atirar nos braços do marido quando eu puxei a tarada pelos cabelos. Disse tudo quanto foi desculpa para voltar para casa. Olhe ali uma correndo! Ei! Aonde vai você nessa carreira?
(…)
Lisístrata – Um homem! Vi um homem vindo para cá com ar de tarado! Parece que ele não aguenta mais o jejum! Se a coisa continuar assim vai acontecer tudo como nós queremos!
(…)
Cinésias – Como sou infeliz! Estou até a sentir tonturas! Meu corpo está todo duro. Não suporta mais esta tortura! … A minha vida já não tem encanto depois que ela me abandonou. Não gosto nem de entrar na casa deserta. Não sinto gosto no que como. Não aguento mais. Todo mundo percebe o tamanho da minha... saudade!

Não há fera mais indomável que a mulher, nem fogo mais destruidor. Nem a pantera é mais traiçoeira.

Ah! Que gostoso! Vocês são muito boazinhas! Quando eu tirei a túnica estava zangadíssimo.

Os poetas têm razão quando dizem que com essas pestes (mulheres) a coisa vai mal e sem essas pestes pior.

Você ama-me? Então por que você ainda não está deitada?

Você até parece que criou rabo no lado oposto!

Embaixador – Onde é o Senado de Atenas? Ou então onde estão os ministros? Tenho novidades a dizer.
Ministro – Quem é você? Um homem ou um saca-rolhas?
Embaixador – Sou embaixador, meu caro. Estou a chegar de Esparta para tratar de paz.
Ministro – Mas você vem tratar de paz com essa lança apontada para nós?
Embaixador – Isto não é uma lança...
Ministro – Então por que sua roupa está repuxada na frente, a certa altura? Será um tumor que cresceu durante a viagem?
Embaixador – (à parte) Esse homem está maluco!
Ministro – (levantando a túnica do embaixador) Não é um tumor! Não adianta disfarçar!
Embaixador – Que é isso? Chega de maluquices! (virando as costas para o público e levantando a túnica) Veja!
Ministro – (virando também as costas pata o público e levantando a túnica) Veja também! Já percebi tudo! Pode dizer a verdade. Como vão as coisas lá em Esparta?
Embaixador – Esparta inteira está parada. Nossos aliados também. Precisamos urgentemente de nossas mulheres.
Ministro – Qual é causa dessa... doença? Algum castigo divino?
Embaixador – Não. Foi Lampito quem começou. Depois todas as mulheres, como se fossem uma só, aderiram a essa greve de sexo.
Ministro – E como é vocês estão a passar?
Embaixador – Mal. Andamos até meio caídos para frente, pois não aguentamos o peso da... lança. E as mulheres não se comovem: só acabarão a greve quando for votada a paz em toda a Grécia.
Ministro – Então é uma greve geral das mulheres. Agora estou a entender! Pois vá dizer já ao seu governo que nos envie representantes com plenos poderes para negociar a paz! E eu vou já à Assembleia tratar da eleição de nossos delegados à conferência da paz, depois de mostrar aos deputados o... que você já viu.
Embaixador – Vou voando! Sua opinião é a mais sensata possível!

Aparece a delegação de Esparta para negociar a paz.
1.º Velho – Olhem lá! Está a chegar a delegação de Esparta! Sejam bem-vindos, espartanos! Qual é o caso?
Embaixador – Você ainda pergunta? (virando-se de costas para o público juntamente com os outros delegados espartanos) Veja o estado em que estamos!
1.º Velho – Irra! O mal de vocês cresceu barbaramente e a inflamação parece ter piorado...
Embaixador – Está insustentável! Preciso dizer mais alguma coisa? Viemos para fazer a paz de qualquer maneira, incondicionalmente!
1.º Velho – O pessoal daqui também está vindo para cá. O mal deles também está enorme. Toda gente vê.
Chega a delegação ateniense.
Ministro – Quem sabe onde está Lisístrata? (virando-se de costas para o público juntamente com os demais atenienses) Vejam como estamos!
1.º Velho – (apontando para os espartanos) Engraçado! Eles estão com a mesma doença!... Ela ataca mais de manhã, AO LEVANTAR?
Ministro – Nada disso! A essa nós estávamos acostumados mas agora, se não houver uma reconciliação já, vamos ter de inventar um substituto para as mulheres... Caros amigos espartanos, o que está acontecendo é vergonhoso!
 Embaixador – É mesmo. Aparecer diante de vocês neste estado!...
Ministro – Mas vamos ao que interessa. Para que é que vocês estão aqui?
Embaixador – Pela paz, como enviados plenipotenciários de Esparta.
Ministro – Ótimo! Nós, atenienses, estamos aqui para o mesmo fim. Acho melhor chamarmos logo Lisístrata. Só ela pode resolver nosso problema.
Embaixador – Boa ideia! Em último caso um Lisístrato também serve...
Ministro – Não precisamos de mandar chamá-la. Ela já vem aí.
Reaparece Lisístrata.
1.º Velho – Salve a bravura em pessoa! Chegou a hora da senhora mostrar que é terrível e condescendente, malvada e boa, altiva e camarada, profunda conhecedora dos homens! Os gregos mais ilustres, conquistados por seus encantos, madame, abrem passagem e submetem suas querelas à decisão da senhora!
Lisístrata – Não haverá dificuldades, pois estou diante de homens que desejam o que há de mais natural. Vamos já experimentar. Onde está a Conciliação? (a Conciliação, personificada por uma mulher sumariamente vestida, aparece vestida, aparece trazida pelas outras mulheres. Lisístrata dirige-se a ela) Traga para aqui primeiro os espartanos, não com severidade e arrogância, como se fazia antes, mas gentilmente, como convém às mulheres. Segure pela parte mais saliente os que não quiserem dar a mão. (a Conciliação traz os espartanos para onde está Lisístrata) Muito bem. Agora traga os atenienses, segurando-os por onde eles preferirem. (a Conciliação traz os atenienses) Espartanos, fiquem aqui perto de mim. Vocês, atenienses, fiquem deste lado. Ouçam todos o que vou dizer. Sou mulher mas tenho cabeça para pensar. Além de ter minhas ideias ouvia as conversas de meu pai e de pessoas mais experimentadas. Por isso sei o que estou dizendo. Agora que vocês estão em minhas mãos quero dizer umas verdades e fazer umas censuras merecidas. Vocês têm de unir-se para não perecerem!
1.º Velho – (olhando a Conciliação com ar de tarado) Já estou convencido só de “ver” os “argumentos” dela!
Lisístrata – Vocês, espartanos, têm sido muito injustos com os atenienses. Parecem até esquecidos de que são todos gregos e muitas vezes foram ajudados e até salvos por eles.
Ministro – Isso mesmo, Lisístrata! Eles são de morte. Vivem atacando nosso litoral.
Embaixador – (à parte e apontando para a Conciliação) Se eu pudesse, atacava agora mesmo as costas dela! Que beleza de “litoral”!...
Lisístrata – E vocês, atenienses, não se julguem melhores que os espartanos. Se vocês pensassem um pouco perceberiam que eles fizeram mais bem do que mal a vocês até hoje!
Embaixador – Nunca vi uma mulher pegar as coisas tão bem!
Ministro – (apontando para a Conciliação) E eu nunca vi uma coisa assim!
Lisístrata – Por que, então, vocês guerreiam? Por que vocês não acabam com essas divergências e se reconciliam de uma vez por todas? Vamos! Qual é a dificuldade?
Embaixador – Se soubéssemos que a Conciliação era assim já estaríamos nos braços dela há muito tempo!
Ministro – Nós também queremos a Conciliação! Primeiro nós!
Lisístrata – Calma! Calma! Ela será de todos! A Conciliação dará tudo que vocês querem quando as negociações de paz forem concluídas. Agora vão consultar todos os outros gregos.
Ministro – Para quê? Quem não vai querer essa Conciliação?
Lisístrata – Então aprontem-se enquanto nós, mulheres, vamos fazer os preparativos lá na cidadela para recebê-los da melhor maneira possível e oferecer a vocês o que temos de mais gostoso. Durante a recepção acertaremos as coisas e trocaremos juramentos de paz. Depois cada um sairá com sua mulher.
Lisístrata torna a entrar na Cidadela.
 Ministro – Oba! Vamos depressa, pessoal!
Embaixador – Não quero nem saber para onde: já estou indo!
Ministro – Corram! (batendo à porta da Cidadela) Mulheres, chegamos! Abram as portas! Abram senão eu toco fogo em vocês! (à parte) Eu ia até esquecendo que não estamos mais brigados! Abram! Se vocês não abrirem nós arrombamos!
Embaixador – Arrombar é conosco! Como é, mulheres? Vamos para casa? Se vocês não forem já, vão ter muito o que chorar! Elas estão saindo!
Abrem-se as portas. As mulheres saem e confraternizam ruidosamente com os homens.
Ministro – Espartanos, agarrem suas mulheres! Atenienses, segurem as suas! Isso! Os maridos perto das mulheres, as mulheres grudadas nos maridos. Depois de festejar esse fim feliz com danças em honra dos deuses, tratemos de evitar no futuro os mesmos erros que nos deixaram por tanto tempo sem... PAZ!





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