Lentamente, o casarão foi rodando com a curva da
estrada, espiando-nos do alto da sua quietude lôbrega pelos cem olhos das janelas. Até que,
chegados à larga boca do portão, nos
tragou a todos imediatamente, cerrando as mandíbulas logo atrás. Enrolado
na multidão silenciosa, fui subindo a larga escadaria em cujo topo um padre
quieto, de mãos escondidas nas mangas do viatório, ia separando as divisões
para as respectivas camaratas. Mudos e quedos, ao pé dos muros, aparecerem-me
ainda, ao longo do corredor, vários padres
de sentinela. E na pura ameaça do seu
olhar de sombra eu sentia, mais escura, a grandeza ilimitada de um pavor
abstracto
Falo agora à memória destes últimos vinte anos e
pergunto- me que destino atravessou a minha vida além desse pavor, que outra
voz mensageira lhe chamou ao futuro além da voz de uma noite sem fim.
Eu vivia, de resto, agora, e cada vez mais, da minha
imaginação. E foi por isto a partir de então que eu descobri a violência da
realidade. Nada era como eu tinha fantasiado e não sabia porquê. Parecia-me que
havia sempre outras coisas à minha volta e que eu não supunha, e que essas
coisas tinham sempre mais força do que eu julgava. Assim, a minha pessoa e tudo
aquilo que eu escolhera para mim não tinham sobre o mais a importância que eu
lhes dera. Chegado à realidade, muita coisa erguia a voz por sobre mim e me
esquecia.
Dói-me o que sofri e recordo, não o que sofri e evoco.
Porque o peso da dor nada tem a ver com a qualidade da dor. A dor é o que
se sente.
… que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma
força inesperada.
"… que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada."
ResponderEliminarTodos nós somos a força descoberta em movimento.
Boa!Pensamento lapidar na teoria.
ResponderEliminarEu diria, que todos almejariam ser força e descoberta em movimento.
Beijo.