sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sófocles- Antígona




Actuar em vão é coisa que não faz sentido.

Convém principiar por não andar atrás do impossível.

Eu, por mim, não creio que haja mal tão grande como morrer sem honra.

É impossível conhecer a alma, o pensar e a determinação de quem quer que seja, se não o vimos agir, com autoridade, aplicando as leis.


Em minha opinião, aquele que, como soberano de um Estado, não se inclina para as melhores decisões, e se abstém de falar, cedendo a qualquer temor, é um miserável! Quem preza a um amigo mais do que à própria Pátria, esse merece desprezo! Que Júpiter, que tudo vê, saiba que não me calarei se vir a ruína, e não o bem-estar de nosso povo; e jamais considerarei meu amigo quem for um inimigo de meu país!

Mas, pela ambição que estimula, o desejo do ganho muita vez põe a perder os homens...

O que não agrada, a gente hesita em dizer.

Não há, para os homens, invenção mais funesta do que o dinheiro! Ele é que corrompe as cidades, afasta os homens de seus lares, seduz e conturba os espíritos mais virtuosos, e os arrasta à prática das mais vergonhosas ações! Em todos os tempos tem ensinado torpezas e impiedades!

Os ganhos ilícitos têm causado muito maior número de prejuízos, do que de vantagens!

É curioso como um homem que presume tudo descobrir, descobre coisas que não existem!

Os lucros desonestos causam sempre contrariedades.

Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o Homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelos ventos do sul, ele avança, e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor! E a terra, a suprema divindade, que a todas as mais supera, na sua eternidade, ele a corta com suas charruas, que, de ano em ano, vão e vêm, revolvendo e fertilizando o solo, graças à força das alimárias!
A tribo dos pássaros ligeiros, ele a captura, ele a domina; as hordas de animais selvagens, e de viventes das águas do mar, o Homem imaginoso as prende nas malhas de suas redes. E amansa, igualmente, o animal agreste, bem como o dócil cavalo, que o conduzirá, sob o jugo e os freios, que o prendem dos dois lados; bem assim o touro bravio das campinas.
E a língua, o pensamento alado, e os costumes moralizados, tudo isso ele aprendeu! E também, a evitar as intempéries e os rigores da natureza! Fecundo em seus recursos, ele realiza sempre o ideal a que aspira! Só a Morte, ele não encontrará nunca, o meio de evitar! Embora de muitas doenças, contra as quais nada se podia fazer outrora, já se descobriu remédio eficaz para a cura.
Industrioso e hábil, ele se dirige, ora para o bem... ora para o mal... Confundindo as leis da natureza, e também as leis divinas a que jurou obedecer, quando está à frente de uma cidade, muita vez se torna indigno, e pratica o mal, audaciosamente!
Oh! Que nunca transponha minha soleira, nem repouse junto a meu fogo, quem não pense como eu, e proceda de modo tão infame!

Nunca devemos jurar coisa alguma; uma segunda opinião pode desmentir a primeira!

Sempre é mais sensível uma alegria por que não se espera!

É motivo de alegria escapar alguém de uma desgraça; mas é causa de desgosto fazer com que nela caiam pessoas amigas.

Os espíritos demasiados obstinados são, precisamente, aqueles que mais depressa sucumbem! O mais sólido ferro, quando aquecido ao rubro, é frequente vê-lo partir-se e reduzir-se a bocados... Tenho visto cavalos fogosos que um simples freio subjuga... Não convém, pois, exibir um caráter altaneiro, quando se está a mercê de outrem.

Muitas vezes o espírito que pensa em executar uma ação perversa, deixa-se trair por sua perturbação, antes de realizá-la! Mas detesto, também, aquele que, culpado de um crime, procura dar a este um nome glorioso!

Eu não nasci para partilhar de ódios, mas somente de amor!

(...) quem só me ama por palavras, não pode ser, para mim, uma verdadeira amiga.

Os mais corajosos fogem quando sentem que a morte os ameaça!

Não haverá nunca, na vida humana, grandeza ou fausto a que não se misture o travo de alguma desgraça.

A frágil esperança será um bem para muitas criaturas, mas será, para outras, uma ilusão apenas, uma ilusão de seus anelos. O homem, que tudo ignora, deixa-se levar por ela, até que sinta queimar os pés nalguma brasa.

Tudo nos deve provir da vontade paterna. A única razão pela qual os homens desejam que nasçam e cresçam em sua casa novos rebentos, é a certeza de que estes, mais tarde, ataquem o seu inimigo, e honrem o seu amigo, tão bem como o pai o faria. Quem quer que tenha filhos inúteis, não terá feito outra coisa senão angariar para si motivos de desgosto, e para seus inimigos uma fonte de risos. Não abandones, pois, meu filho, pela sedução do prazer, ou por causa de uma mulher, os sentimentos de que estás animado; e sabe que é bem frio, muita vez, o beijo de uma mulher quando é uma esposa má que recebe o marido em casa... Haverá maior flagelo do que um falso amigo?

Se eu tolero a rebeldia daqueles que pertencem à minha estirpe, com mais forte razão transigirei com a de estranhos! Quem é rigoroso na decisão de seus casos domésticos, será também justo no governo do Estado.

Não há calamidade pior do que a rebeldia; ela é que arruína os povos, perturba as famílias, e causa a derrota dos aliados em campanha. Ao contrário, o que garante os povos, quando bem governados, é a voluntária obediência.

Meu pai, ao dotar o homem da razão, os deuses concederam-lhe a mais preciosa dádiva que se pode imaginar. Será, por acaso, certo tudo o que acabas de dizer? Eu não sei... e praza aos deuses que eu não saiba nunca. No entanto, outros há, que podem ter outras ideias.

(…) que melhor alegria terá o pai, do que a glória dos filhos?

Todos quantos pensam que só eles têm inteligência, e o dom da palavra, e um espírito superior, ah! esses, quando de perto os examinamos, mostrar-se-ão inteiramente vazios! Por muito sábios que nos julguemos, não é indecoroso em aprender ainda mais, e em não persistir em juízos erróneos... Quando as torrentes passam engrossadas pelos aguaceiros, as árvores que vergam conservam seus ramos, e as que resistem são arrancadas pelas raízes!

O homem que possuir toda a prudência possível, deve levar vantagem aos outros; mas como tal virtude nunca se encontra, manda o bom senso que aproveitemos os conselhos dos demais.

(…) nós devemos atender às razões, e não à idade.



HÉMON
Ouve: não há estado algum que pertença a um único homem!
CREONTE
Não pertence a cidade, então, a seu governante?
HÉMON
Só num país inteiramente deserto terias o direito de governar sozinho!


Amor, invencível Amor, tu que subjugas os mais poderosos; tu, que repousas nas faces mimosas das virgens; tu que reinas, tanto na vastidão dos mares, como na humilde cabana do pastor; nem os deuses imortais, nem os homens de vida transitória podem fugir a teus golpes; e, quem for por ti ferido, perde o uso da razão! Tu arrastas, muita vez, o justo à prática da injustiça, e o virtuoso, ao crime; tu semeias a discórdia entre as famílias... Tudo cede à sedução do olhar de uma mulher formosa, de uma noiva ansiosamente desejada; tu, Amor, te equiparas, no poder, às leis supremas do universo, porque Vénus zomba de nós!

Mas o destino é inexorável: nem a tempestade, nem a guerra, nem as muralhas, nem os navios sacudidos pelas ondas, podem dele fugir.

O erro é comum entre os homens: mas quando aquele que é sensato comete uma falta, é feliz quando pode reparar o mal que praticou, e não permanece renitente. A teimosia produz a imprudência.

Os homens mais espertos muitas vezes fracassam vergonhosamente, quando falam induzidos pela ambição do ganho!

Ceder, é duro; mas resistir, e provocar a desgraça certa, não o é menos!

Ó vós (…),  não há vida humana, que nós devamos invejar, ou deplorar, enquanto dure... A sorte eleva, ou abate, continuamente, os homens infelizes, e os ditosos; ninguém pode prever que destino está reservado aos mortais.

Quando os homens perdem a razão de ser de sua alegria, eu suponho que não vivem: são apenas cadáveres animados... Acumula em tua casa, se queres, riquezas sem conta; vive com o fausto de um rei; se não possuis a alegria, tudo isto não vale a sombra de uma fumaça, comparado a uma verdadeira felicidade.

(…) um silêncio profundo tem qualquer coisa de ameaçador.

Não formules desejos... Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva!








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